sexta-feira, 17 de setembro de 2010

TESTEMUNHO

Salmo 126
Algo muito singelo na minha vivência, é que, após as férias anuais da família, mesmo sabendo que isso significa iniciar novamente o corre-corre do cotidiano, todos ficamos alegres em retornar ao “ninho”. Invariavelmente, os filhos falam, informalmente, na intimidade da família: “estávamos com saudade da nossa casinha”. Pense agora na alegria de um povo inteiro que passou décadas fora de seu país. Que alegria incontida quando consegue retornar ao torrão pátrio. Nem acreditam que está acontecendo de verdade. Assim é o pano de fundo histórico desse salmo, o retorno do cativeiro babilônico, onde Judá tinha passado cerca de 70 anos. Se a ida para o cativeiro foi traumática, o retorno foi o ápice de uma espera que, concretizada, parecia um sonho.
1. Uma experiência inesquecível e corretiva
O Exílio aconteceu no século VI a.C. Já no período próximo à invasão babilônica, a situação política de Judá era instável. Josias tentou impedir a passagem de Faraó Neco para a Mesopotâmia, o que lhe custou a vida, ao tempo em que o Egito é derrotado na batalha de Carquemis (cidade próximo ao rio Eufrates, no norte da Mesopotâmia), em 605 a.C. (Jr 46.2-12). Derrotado, Neco faz de Judá um reino vassalo, o que vai resultar na ação babilônica para evitar avanços egípcios. Em 597 a.C. Jerusalém é desmilitarizada e cerca de 10 mil pessoas são deportadas (2Rs 24.14-16). Zedequias é colocado como líder do povo, mas se rebela contra os Babilônicos, resultando na destruição de Judá em 587 a.C. Um novo grupo de cativos é levado, permanecendo em Judá apenas o povo do campo. Por outro lado, os que ficaram estavam arrasados, pois tudo tinha sido destruído: o Templo, os prédios, a estrutura urbana, tudo estava em ruínas. Já o povo do exílio não ficou distanciado, mas agrupado em uma só região. Provavelmente ficaram às margens de rios (Sl 137), e outros estiveram na corte da Babilônia. Este é um breve resumo para compreendermos a catástrofe que se abateu sobre Jerusalém.
Mas o Deus que corrige é o mesmo que restaura. O profeta Jeremias, antes da ocorrência do exílio, falou reiteradas vezes sobre o retorno do povo (29.14; 30.3,18; 31.23; 32.44; 33.7,11,26). Houve alegria geral entre eles (v.1) quando por decreto de Ciro, imperador persa, os cativos voltaram para Jerusalém. Foi como um sonho, mesmo que o retorno mostrasse a dura realidade que teriam de enfrentar na reconstrução de seu país, como nos mostra o livro de Neemias. O exílio foi um período de sofrimento, mas também de amadurecimento desse povo, que fora deportado como consequência de se afastar do Senhor. Um detalhe significativo do cativeiro babilônico é que, após este, Judá nunca mais se volta, enquanto nação, para os ídolos. É desta experiência que Judá é chamado a testemunhar. Não apenas as palavras, mas a própria experiência é o maior meio de testemunho.
2. O testemunho de um povo que louva (vv.2,3)
A mudança de estado (cativeiro-liberdade) traz o sorriso de volta aos lábios do povo. A lamentação e o gemido foram substituídos pelo riso e pelos cânticos de alegria. O remanescente de Judá voltou à Terra Prometida decorridos os 70 anos previstos pelo profeta (Jr 29.10). A história do povo de Deus testemunha que Ele repreende e restaura, castiga e cura (Jr 33.6). O cativeiro ocorreu como um castigo de Iavé por causa da apostasia; e a volta à Terra Prometida ocorreu por causa do seu amor constante. O poder divino tinha movimentado os babilônios e posteriormente chamou Ciro, rei da Pérsia, para estabelecer um decreto misericordioso e benevolente.
Os louvores soaram espontaneamente: “a nossa língua se encheu de cântico”. Eram louvores dos restaurados. Não se trata de uma atitude meramente sentimental de recordação do passado; é, antes de tudo, o louvor que exalta e testemunha a verdade sobre Deus e o desdobramento de seus propósitos. Os judeus penduraram suas harpas nos salgueiros (Sl 137.2), pois não conseguiam cantar ao Senhor em terra estranha. Mas agora o coração deles transbordava de gratidão e louvor – a transformação foi verdadeiramente uma intervenção divina. O testemunho precisava (e precisa) soar em todas as direções. “Grandes coisas fez o Senhor por nós”, testemunhava o povo de Judá. Como é bom repetir essas palavras! Sabemos que existem inúmeros motivos para testemunharmos todos os dias com essas e outras expressões de reconhecimento do que Deus tem feito por nós.
3. O testemunho de um povo que renova sua esperança (vv.4-6)
A expressão do v.4 – “faze-nos regressar outra vez do cativeiro” – pode ser entendida como uma petição para que Deus complete o processo de restauração iniciado, auxiliando o povo na reconstrução do país, a vencer os obstáculos e a terem forças para o difícil recomeço. Nem todos ainda tinham retornado; possivelmente muitos estivessem desanimados e escravizados. Por isso, o clamor pela continuidade da intervenção divina se justifica plenamente.
Dois quadros são apresentados para falar dessa renovação. O primeiro fala de uma intervenção miraculosa de Deus, uma dádiva celeste, que transforma um lugar desértico em uma terra fértil. O v.4 pode ter a seguinte tradução: “muda, Senhor, nossa sorte, como os leitos do Negeb”. Este nome significa “seco”, ou “ressequido”, e designa, muitas vezes, a parte do extremo sul da Palestina, que se estende em direção à Península do Sinai. Lugar árido, na estação chuvosa, a água intensa das chuvas enchiam os leitos dos rios de correntes torrenciais, fertilizando a terra ao redor, transformando-a em lugar de relva e flores. Essas torrentes falam da misericórdia divina nos momentos de sequidão da vida. Os judeus tinham sido deixados no exílio, estavam como que em deserto material e espiritual e precisavam receber uma revigorante chuva de bênçãos divinas. Era disso que Judá precisava – uma renovação completa de sua sorte, que Deus fizesse o que está registrado em Jó 38.25-27: “Quem abriu para a inundação um leito, e um caminho para os relâmpagos dos trovões, para chover sobre a terra, onde não há ninguém, e no deserto, em que não há homem; para fartar a terra deserta e assolada, e para fazer crescer os renovos da erva?”. A resposta para esta série de perguntas é uma só: apenas Deus pode fazer tudo isso.
O segundo quadro fala de um trabalho lento e árduo, no qual o homem tem um papel crucial a desempenhar. Os versos 5 e 6 contrapõem a fadiga da semeadura com a alegria da colheita. A semeadura exige preparo da terra, cuidado durante o desenvolvimento da semente, além do enfrentamento das pragas e outros fatores. A chuva o semeador não pode controlar; ele não dispõe de água, depende da cheia dos rios. No entanto, pode investir seu tempo e energia na semeadura. Nós, brasileiros, temos visto anos a fio a persistência férrea daqueles que vivem nas regiões da seca em nosso país. Como eles se alegram quando podem plantar alguma coisa, na esperança de poderem colher mais à frente. Na hora da colheita, o trabalho árduo, realizado com lágrimas, se transforma em alegria pelos frutos colhidos e a provisão conseguida.
Ambas as imagens são expressivas e testemunham da renovação operada por Deus na vida de seu povo. A marcha penosa e árdua do cativeiro não foi estéril, foi um semear custoso para uma colheita gostosa e abundante. O v.6 também pode ser traduzido assim: “aquele que com certeza sai chorando (...) voltará com certeza com alegria...”. Esta convicção precisava ser testemunhada, de maneira que as nações voltariam a dizer: “grandes coisas fez o Senhor a estes”.
Para pensar e agir
▪ Precisamos testemunhar do que Deus tem feito por nós. Suas ações são grandiosas e as pessoas precisam saber disso. Fale, cante, exalte o que Deus faz, e você estará testemunhando.
▪ Não apenas fale. Nossa vida, nossa história, nossas atitudes, são, na realidade, nossa maior autoridade no testemunho. Sejamos capazes de cantar: “só o poder de Deus pode mudar teu ser”, mas também: “a prova que eu teu dou é que mudou o meu”.
Leitura Diária
segunda-feira 2 Crônicas 35.20-27
terça-feira 2 Crônicas 36.1-23
quarta-feira Jeremias 33.1-14
quinta-feira Jeremias 33.15-26
sexta-feira Jeremias 46.1-12
sábado Salmo 137
domingo Salmo 126

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