terça-feira, 28 de setembro de 2010

O Deus que se deixa importunar


Texto básico: Lc 11.5-8

O que você pensa sobre a oração? Orar é um hábito que você cultiva? É impressionante perceber como muitos crentes têm tentado viver uma vida cristã sem orar. Digo “tentado” porque oração é vital para o nosso relacionamento com Deus e para nosso testemunho. Afinal, quando alguém cai, não o faz primeiro por causa da vaidade, mas sim porque deixou de orar.

Orar era para ser bom, prazeroso. A oração devia ser um estilo de vida do crente, mas para muitos se tornou uma espécie de monótono e enfadonho relatório a ser preenchido ao fim do dia... Talvez seja por isso que algumas igrejas estão vivendo do passado, num “santo” cultivo da nostalgia. Toda vida de Deus no meio do seu povo começa com oração. E quando uma igreja é calcada na oração é porque cada um dos seus membros abraçou um ideal de intimidade com o Senhor. Julgo que a maior marca de uma igreja que ora não seja suas entradas de membros ou receitas, mas sim a visível condução e direção do Espírito sobre o povo. Para uma igreja que vive debaixo dessa condução, acréscimo de membros ou de receitas será um detalhe, e não um valor.

Quem não tem vida em oração destoa do Mestre. Jesus orava. E muito. Há diversas passagens dos evangelhos que mostram um Cristo que não abriu mão de cultivar uma vida de intimidade com o Pai. Por diversas ocasiões, mesmo vendo o volume das necessidades que o cercou, Jesus se retirou. Se havia alguém que podia salvar o mundo esse era o Salvador. Mas Ele sabia e deixou o exemplo da necessidade que temos de ter um tempo a sós com o Pai.

Infelizmente nosso problema com a oração não se restringe ao pouco tempo que dedicamos a este primordial instrumento da espiritualidade cristã, nem tampouco à própria e reinante incompreensão sobre o tema. Além desses fatores, soma-se o exercício da oração como um monólogo (só nós falamos e não paramos para ouvir Deus), o uso da oração como um mecanismo de manipulação divina (os chamados “decretos” – ordens sendo dadas a Deus) e o reducionismo da intercessão para momentos de aperto.

Por isso é importante entendermos alguns aspectos sobre a oração abordados na parábola do amigo inoportuno. Essa parábola, que só se encontra no evangelho de Lucas, está compreendida entre dois blocos claros sobre oração: um no início do capítulo quando Jesus deixa o pai-nosso para os discípulos e outro entre os versos 9-13 quando Ele aborda alguns aspectos do caráter do Pai.

1. Entendendo o contexto histórico-social

A nossa distância histórica e cultural é tamanha que algumas dificuldades se apresentam ao ler a parábola. Para nós que vivemos num contexto social violento, no terceiro milênio da era cristã, fica difícil entender por que alguém atenderia um pedido de um amigo feito em hora inoportuna. Isso se torna mais difícil ainda para quem mora em condomínio.

As casas e vilarejos da Palestina na época de Jesus pouco têm a ver com as habitações de hoje. Na maioria dos casos (salvo exceções de gente abastada), famílias moravam em pequenas casas com um a dois cômodos. Eram casas sem telhas, sem quartos (como os conhecemos hoje), nas quais as famílias estendiam, ao fim do dia, esteiras no chão e dormiam praticamente juntas (pai, mãe e filhos). O acesso à porta era possível a qualquer transeunte. Por isso qualquer pessoa que batesse tarde da noite geraria um incômodo a toda a família.

Contudo deve-se destacar que era comum naquele tempo o exercício da hospitalidade. Receber um visitante era mais do que uma cortesia, era uma obrigação. Não acolher um amigo que estava em viagem era o mesmo que ser condenado a uma espécie de execração pública, a “cair na boca do povo”. Quem iria querer isso para sua vida?

Por isso o vizinho vai tão confiante pedir pães em hora tão imprópria. Ele sabia que o detentor dos pães teria “medo da vergonha” à qual seria exposto no dia seguinte, caso recusasse a ajuda. Aliás, esse “medo” é a melhor ideia para o grego anaideia (v.8 – só aqui no NT), o qual é traduzido normalmente por “importunação”.

Interessante também destacar que Jesus fez uso, segundo Simon J. Kistemaker, de uma regra de hermenêutica rabínica que apregoava o ensino extraído do menos para o mais importante. O que Jesus queria dizer aqui não é que Deus dorme numa casa pequena, nem tampouco que nela sempre falta pão, ou mesmo que Ele é pegado desprevenido. O que o Mestre deixou para nós é que se um vizinho, mesmo que com a motivação errada (anaideia), atende o clamor de alguém, quanto mais o Pai! Essa mesma ideia Jesus vai enfatizar nos versos 11-13.

2. Pode alguém importunar a Deus?

No sentido de surpreendê-lo, já vimos que não. Deus não dorme (Sl 121.3,4) e o futuro Ele já conhece, pois “está nele”. Nem tampouco a persistência de alguém em seu pedido pode gerar uma “inquietação” divina. Mas deve-se destacar que a grandeza de Deus está também em acolher cada um desses pedidos pelos quais intercedemos por vezes anos a fio. Ele nos compreende.

Aliás, Deus não se torna pequeno por se deixar importunar. Deus não diminui sua majestade por permitir que nós reiterada e insistentemente apresentemos com todo o nosso coração nossas petições. Seja qual for sua petição, o Senhor a recebe. A diferença para a parábola é que Ele não faz isso por “medo da vergonha” ou para manter a aparência (tal cultivo da imagem pessoal é para gente mal resolvida, o que definitivamente não é o caso do Senhor). Mas, simplesmente, quando atende ao que pedimos, o faz por amor a nós e por fidelidade aos propósitos dele para a nossa vida.

Nesse sentido, nossa insistência é permitida, mas não é determinante para que um pedido seja atendido. Mas ela se torna primordial para nós, a fim de avaliarmos, pela nossa perseverança em certo pedido, quanto ele é realmente importante para nós. A nossa “importunação” não muda o coração de Deus, mas revela o nosso, na medida em que mostra o quanto estamos realmente empenhados naquele assunto.

3. Mais algumas lições

O que mais Jesus quis nos ensinar?

  1. Que Deus é o nosso provedor. No vizinho pode haver três pães (que eram do tamanho da mão de um homem) para dar, mas na casa do Pai há fartura de pão! E isso implica assumir que Deus é quem atende as nossas necessidades (Sl 23.1; 37.25). O nosso Pastor sabe do que precisamos. E o compromisso dele é atender as nossas necessidades e não as nossas vontades (Mt 6);
  2. Que Deus não quer uma relação conosco de vizinho. Deus quer uma proximidade de amigo. Será que você pode ser chamado de amigo de Deus, como foi Abraão (Tg 2.23; Gn 18.16-22)? Lembre-se, um amigo sabe o que agrada e desagrada ao outro;
  3. Interessante notar que para cada pão pedido na parábola (o qual cabia na mão de um homem), Jesus usa um imperativo: “Pedi; buscai; batei”. A ordem é para que recorramos ao Senhor. O imperativo é para nós (servos), não para que Deus cumpra algo.
  4. Por fim, devemos crer que Deus sempre tem o melhor para nós. Se os pais sabem dar boas dádivas, quanto mais o Senhor (v.13). A variação no verso 13 entre “Espírito Santo” (em Lucas) e “coisas boas” (em Mt 7.11) é dirimida pelo fato de que a melhor “coisa boa” que o Senhor pode nos dar é o próprio Espírito. No grego, o dom/presente do Espírito é grafado pela palavra dorea, este recebido na hora da conversão.

Conclusão

Uma das maravilhas da paternidade é você compreender um pouco mais do amor de Deus, só que agora por dentro. Como pai, você sempre quer dar o melhor para seu filho. Assim é com o Pai celestial. A vida de oração é um convite ao descansar em Deus. É um convite a uma vida de fé, entendendo que o Pai celestial nos trata como filhos amados. Tenha uma vida em oração.

segunda-feira

Lc 11.5-8

terça-feira

Lc 11.9-13

quarta-feira

Gn 18.22-33

quinta-feira

Mt 7.7-11

sexta-feira

Hc 1

sábado

Jn 4

domingo

Sl 141

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