segunda-feira, 6 de setembro de 2010

GRATIDÃO

Salmo 103
Há um provérbio chinês que diz o seguinte: “quando beberes água, pensa na fonte”. A gratidão é uma atitude que precisa ser cultivada em nossas vidas, independente das circunstâncias que passarmos. É possível que o salmo 104 (anônimo) tenha sido escrito para ser usado junto com o 103 (atribuído a Davi), visto a abertura e o encerramento de ambos serem parecidos. Todo o salmo é permeado por gratidão, não havendo referências a inimigos, sofrimento ou culpa pessoal. Embora haja uma nota pessoal em todas as motivações de gratidão, o salmo nos lembra que esta deve ser a atitude de todos nós diante das dádivas divinas.
1. Gratidão pelos atos de Deus na vida pessoal (vv.1-5)
O v.1 é uma atitude definitiva contra a apatia ou o desânimo. Todo o ser, mente e emoções do salmista ficam envolvidas no agradecimento a Deus. Não é possível esquecer-se dos benefícios do Senhor, pois eles têm sido imensuráveis. Mas o que Deus fez na vida de Davi?
1.1 Perdão completo (v.3): as duas frases do verso, conquanto sejam semelhantes, parecem expressar a ideia hebraica de que as enfermidades sempre tinham como causa algum pecado, como podemos ver nas palavras dos amigos de Jó, tese essa refutada no próprio livro. Quando Davi se arrependeu do pecado com Bate-Seba, o perdão foi imediato; a cura da criança, no entanto, foi negada, a despeito das orações e jejum (2Sm 12.13-23). Portanto, a relação direta entre pecado e enfermidade não se estabelece, seja para imputação de culpa ou para cura da enfermidade.
1.2 Livramento (v.4): redimir da cova pode ter o sentido de livramento de uma morte prematura, embora muitos sugiram que o verso aponte para algo mais amplo, como uma esperança profética de uma redenção evangélica. De qualquer forma todo livramento é obra da misericórdia e graça divinas.
1.3 Provisão e renovação das forças (v.5): Deus é Criador e Sustentador em qualquer época da nossa vida. Este verso faz um paralelo perfeito com Isaías 39.31. Davi agradece a Deus por todas bênçãos, deixando-nos o ensino de que também devemos fazer o mesmo, pois Deus tem nos dado muito mais do que pedimos, pensamos e necessitamos.
2. Gratidão pelos atos de Deus na História (vv.6-14)
Davi conhecia muito bem a história do Êxodo, sabendo que ela retrata a indignidade humana com suas murmurações e desvios em contraste com a superabundante graça de Deus (v.10). O Senhor foi o benfeitor pessoal do salmista, mas também é aquele que faz benefícios à coletividade; o alcance de suas dádivas é tanto pessoal quanto universal. O v.6 faz-nos lembrar de Êx 3.7,8 cujo teor nos afirma que Deus viu a opressão do seu povo e desceu para libertá-lo, ação essa baseada no seu amor e na sua justiça.
O v.8 guarda grande semelhança com Êx 34.6, exemplo clássico da inconstância humana e da misericórdia divina. Quando Israel pecava, Iavé mostrava-se longânimo, tardio em irar-se, a despeito das inúmeras e sérias provocações feitas pelo povo, que era inconstante, ao passo que o amor de Deus era (e é) constante. Usando de palavras contundentes (vv.9,10) o poeta ressalta o contraste entre a generosidade de Deus e a grosseria humana, que sempre quer continuar suas disputas e acalentar seus ressentimentos. Deus, contra quem as pessoas pecam infinitamente, tempera sua ira com justiça e amor, cuja expressão máxima temos na cruz de Cristo.
A gratidão de Davi é tão maior quanto lembra o trato definitivo dado por Deus aos pecados dele e do povo. Usando a figura de distâncias grandiosas, o salmista expressa a grandiosidade do amor de Deus, que afasta os pecados para bem longe (vv.11,12). Pelo contrário, a intimidade da família atrai para o cuidado de pais amorosos e zelosos. No contexto de uma família, há afeição e compaixão. O pai conhece a seu filho e com ele se preocupa, amando-o com um amor forte e puro (v.14): “... ele conhece a nossa estrutura”. O “Ele” é enfático, indicando que Deus nos conhece ainda melhor do que nós conhecemos a nós mesmos.
A história do Êxodo não é relembrada como mera informação, mas como um período de treinamento dos filhos de Israel. O contraste entre as ações de Deus e o comportamento do povo ressalta ainda mais a necessidade de gratidão permanente. Se olharmos para a nossa história de vida, de nossas igrejas, de nossa denominação, constataremos também o quanto Deus tem agido com beneficência conosco. Por tudo isso, a gratidão deve estar presente em nosso coração, em nossos lábios, em todo o nosso ser.
3. Gratidão pelo eterno amor de Deus (vv.15-18)
Duas metáforas comuns no AT são usadas para ilustrar a fragilidade e a temporalidade humana em contraste com a eternidade do amor de Deus: a erva (ou relva) e a flor do campo. A primeira é cortada quando o trabalhador vai plantar ou colher; a segunda, conquanto bela e perfumosa, não resiste ao sol escaldante, ao vento forte ou a uma tempestade. A erva é cortada e queimada, como se não tivesse valor, a flor tem valor temporário, murcha, mesmo tendo por um pouco de tempo enfeitado o campo. No NT Jesus nos leva a considerar os lírios do campo (Mt 6.28-30), que são mais bem ornados do que Salomão, mas tudo isso se perde de modo breve e repentino, e de maneira absoluta. Assim também um homem, a despeito de qualquer glória que possa ter obtido, acaba perdendo-se pela brevidade da vida.
Em contraste, o amor de Deus é constante e a sua misericórdia não tem fim; é de eternidade a eternidade, aplicada a gerações sucessivas, sem falhas ou interrupções (vv.17,18). Estes versos contêm a semente da certeza que o NT nos dá, de que fomos escolhidos em Cristo antes da fundação do mundo, para reinar com Ele para sempre (Ef 1.4, Ap.13.8). A aplicação desse grande benefício tem uma importante cláusula restritiva: “... sobre aqueles que o temem (...) que guardam o seu concerto (...) e se lembram dos seus mandamentos pra os cumprirem”. Deus tinha feito um pacto com Israel, no qual o amor, a misericórdia e a justiça seriam integralmente aplicadas. A fidelidade de Deus a este pacto leva Davi a relembrá-lo e render gratidão por pertencerem – ele e Israel – a esta aliança.
4. Gratidão universal a Deus (vv.20-22)
É impressionante a visão ampla que Davi tem da pessoa de Deus, a ponto de conseguir falar dele de uma forma intensamente pessoal sem perder de vista sua transcendência. Assim é que ele termina esse salmo expandindo a gratidão e o louvor devidos a Deus para além da esfera daquilo e daqueles que são meramente humanos. Iavé merece louvores de cada israelita, de toda a nação, de todos os povos, de todos os seres celestiais, de todas as obras feitas por Ele e de todo o universo (vv.20-22). Conquanto Sião seja a cidade de Deus, seu trono está estabelecido nos céus e seu domínio não se restringe à estreita faixa de terra da Palestina: seu reino domina sobre tudo (v.19). As microscópicas coisas do universo bem como as maiores coisas nele presentes não existem ou subsistem sem Deus. Tudo provém dele, é por Ele e para Ele, para louvor da sua glória (Rm 11.36).
O salmo termina como começa: “bendize, ó minha alma, ao Senhor”. A canção de Davi não é um solo, pois toda a criação está louvando ou louvará junto com ele; mas é preciso destacar os inúmeros benefícios que ele tinha alcançado, de modo que a celebração a Deus seja completa.
Para pensar e agir
▪ Somos tão inclinados a pedir, que é difícil alguém fazer uma oração “apenas” de gratidão. Você poderia orar dessa maneira?
▪ Relembre o que Deus tem feito na “sua” história. Reúna a família, para agradecer pelos seus antepassados, que deixaram uma herança de vida com Deus. Agradeça ao Senhor pelos que foram usados por Ele para plantarem a semente do evangelho em nosso país, estado, cidade...
▪ Uma sugestão: faça uma lista detalhada dos seus motivos de gratidão. Compartilhe com sua família, sua classe, seu irmão. Encerre o estudo montando um quadro com essas listas e ore agradecendo a Deus.
Leitura Diária
segunda-feira Mateus 6.25-34
terça-feira Colossenses 3.14-17
quarta-feira Lucas 17.11-19
quinta-feira Salmo 106.1-31
sexta-feira Salmo 106.32-48
sábado Salmo 103
domingo Salmo 104

Nenhum comentário:

Quem sou eu

Minha foto
Igreja Batista Ebenézer. Uma igreja que AMA você!