quinta-feira, 19 de agosto de 2010

SEDE DE DEUS

Salmos 42 e 43
Aprendemos na escola que a água é insípida e incolor, mas quem nunca elogiou uma água fresquinha, após caminhar sob um sol muito forte, dizendo: “Que água gostosa”! Que o rigor científico me desculpe, mas realmente numa situação assim a água é muito gostosa e, tão mais gostosa quanto mais seca estiver a garganta. Sorvemos tudo e ainda queremos mais. Nestes salmos, o poeta usa essa ilustração para falar do anseio de sua alma por Deus, e é sobre esse desejo que vamos falar esperando que cada um possa cada dia mais ter a “garganta seca” das coisas espirituais, buscando a fonte de águas vivas para ali saciar sua sede.
1. Dois salmos – um poema
Os salmos 42 e 43 são vistos como duas partes de um único poema, estreitamente entrelaçados, possuindo algumas características em comum. Inicialmente, há um título único que serve para ambos, que fala do desejo do salmista em estar diante do altar do Senhor. Existe também o monólogo de lamento pela opressão do inimigo, que está presente em 42.9 e 43.2 e o estribilho que termina as duas partes do Salmo 42 (vv. 5 e 11) e que encerra o Salmo 43 (v.5). Ambos os poemas tomam a forma de um lamento, podendo ser proveniente de alguém (talvez um cantor do templo exilado no Reino do Norte) ou mesmo de um rei em campanha militar, longe do templo e, portanto, do contato com o santuário de Iavé, para onde deseja retornar. No entanto, os dois salmos terminam em uma nota de triunfo, pois as orações foram respondidas. Assim, o poeta transforma seus anseios em fé resoluta e convicta esperança em Deus.
2 – Uma grande sede (42.1-5)
“Como o cervo brama pelas correntes das águas...”. É dito desse animal que, quando fica exausto e dolorido de tanto correr, seu último refúgio é a água, para cujo meio poderá nadar, e assim evitar o olhar brutal dos que o perseguem e beber o precioso e revigorante líquido. Este é um quadro que demonstra a total dependência da corça pela água e não a autossuficiência de um camelo no deserto, como diz Kidner. A expressão do v.2 “quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus?” remete-nos à expectativa intensa do salmista de ver satisfeita a necessidade que o afligia, necessidade esta que se torna mais patente ainda devido à incitação zombeteira dos inimigos que perguntam: “onde está o teu Deus?” (v.3b). Este desdém o angustiava ainda mais a ponto de ele dizer que seu dia era passado em prantos (v.3a). Desta forma, ele se sente totalmente vulnerável aos ataques dos inimigos, não havendo outro refúgio que não seja a presença do Senhor.
Suas palavras (“quando entrarei e me apresentarei ante a face de Deus”) são muito mais do que saudade de um lugar; é, antes, o anseio por uma manifestação poderosa da presença de Deus. Temos buscado a Deus como esse animalzinho busca sua água necessária? Na linguagem neotestamentária, escolheu a bem-aventurança daqueles que têm fome e sede de justiça, mas que serão saciados (Mt 5.6), e não a situação enganadora daqueles que se acham fartos, mas que padecerão fome (Lc 6.25). Parece-me que muitas coisas hoje em dia substituem a presença de Deus nas igrejas e na vida dos crentes, que se contentam com imitações ao invés do cultivo da verdadeira piedade e espiritualidade. Há muito barulho e excesso de tarefas tomando o lugar da meditação e disciplina espiritual, as quais, se exercitadas, fortalecem a vida e a comunhão com o Senhor.
O término dessa primeira sessão (que se repete em 42.11 e 43.5) revela a tensão que o poeta experimentava e que é permanente em todos os crentes, mesmo os mais dedicados e fiéis, embora alguns hesitem em admitir. Temos profundas convicções de nossa fé em Deus, mas também somos criaturas mutáveis e suscetíveis a angústias e ansiedade e isso não tem nada a ver com falta de fé ou “problema espiritual”, qualquer que seja o sentido dessa expressão tão vaga. O salmista diz: minha alma está abatida e perturbada, mas ainda o louvarei. Ele não buscou a aflição nem ela era intolerável, pois não abalou sua fé e esperança.
3 – Um grande abismo (42.6-11)
Nesses versos há um quadro que ilustra um cenário de assombro para o poeta, muito semelhante à realidade vivida pelo profeta Jonas (2:3) quando submerso no mar nas entranhas de um grande peixe, percebia-se coberto pelas grandes ondas do mar. As ondas são personificadas e chamam umas às outras para se juntarem, agindo em conjunto contra um homem em estado de penúria e perigo (v.7). No entanto, mesmo submerso sob as grandes ondas da vida, a fé do salmista sempre vem à tona, pois ele se lembra de Deus (v.6) como seu guardião e libertador, o qual está sempre atento para adequar as coisas em seu amor constante (v.8).
Assim é também conosco, pois o curso de nossa vida bem como seu ponto final está garantido pelo Senhor, cuja benignidade e misericórdia transformam as tristezas e afiançam o triunfo ao fim da jornada: “... o Senhor mandará a sua misericórdia de dia, e de noite a sua canção estará comigo...”. Da mesma forma como Deus pode ser visto como a única causa na permissão das provações, também é a única causa de nosso triunfo espiritual e a alegria que o acompanha, pois Ele é o “Deus da minha vida”. Deus é o alicerce da vida, ou seja, aquele que dá apoio à vida inteira, tal como uma construção de qualquer espécie não fica em pé sem alicerces adequados (v.9). A rocha é, igualmente, uma fortaleza, termo militar que nos lembra refúgio e segurança, um lugar no qual o salmista poderia proteger-se dos inimigos como também lançar um ataque contra os inimigos. Tais inimigos não apenas afligiam o corpo (“com ferida mortal em meus ossos me afrontam os inimigos...” [v.10]), mas também a alma, inquirindo zombeteiramente: “onde está o teu Deus?”.
A nota final, no entanto (v.11), é de esperança, seja na experiência do salmista, seja também na nossa, hoje em dia. Deus não permite que seus servos fiquem prostrados (cf. Sl.16.10), pois “... o choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã” (Sl 30.5b). Tal afirmação não é apenas otimismo, mas fé e esperança depositadas na Rocha, que é o Senhor.
4 – Um grande livramento (43.1-5)
No salmo 43 o processo continua, embora as assertivas sombrias (“por que me rejeitas”, “por que ando lamentando” – v.2) se alternem com orações cada vez mais esperançosas. O próprio início do salmo – “faze-me justiça” (v.1) – é mais animado do que as palavras iniciais do salmo anterior (42.1,2). O salmista agora faz uma petição mais positiva, clamando por “vida e verdade”, ou “luz e verdade”, isto é, clama pela fidelidade divina, que eliminará suas mazelas. Recebendo-as, o salmista se vê pronto para desfrutar das bênçãos do santo monte e do tabernáculo, representativos aqui da presença divina, diante da qual o poeta pode eficazmente adorar.
O livramento desejado só poderia vir da parte do Senhor, pois as dificuldades e a opressão dos inimigos tinham deixado o salmista em uma situação calamitosa a qual ele não podia controlar. Só Deus podia reverter a miserável situação em que se encontrava, pois Ele é a Fortaleza, local de descanso e refúgio (v.2). Deus estava ao seu lado, então podia antecipar que as provas terminariam em triunfo, a saúde, a alegria, a confiança e a esperança seriam restauradas, pois os inimigos seriam derrotados (v.5). Da mesma forma, podemos encontrar encorajamento para os momentos de abatimento e perturbações da vida quando renovamos a esperança de que novamente louvaremos o Senhor.
Para pensar e agir
▪ Na vida, passamos por desertos, que ressecam nossa garganta. Ser filho de Deus, a despeito do que muitos “pregam” hoje, não é ter um salvo-conduto contra os problemas da vida.
▪ Angústia e temor diante da adversidade não significam falta de fé ou abandono de Deus. Renove sua esperança no Deus que pode mudar o curso de sua vida.
▪ Lembre-se sempre de que você possui uma fonte perene de água viva para eliminar a sua sede. Quanto você almeja dessa água? Anseia por ela todos os dias?
Leitura Diária
segunda-feira Deuteronômio 31.5-8
terça-feira Josué 1.6-9
quarta-feira Isaías 41.8-14
quinta-feira 1 Pedro 5.5-7
sexta-feira Salmo 84
sábado Salmo 42
domingo Salmo 43

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