segunda-feira, 23 de agosto de 2010

ARREPENDIMENTO

Salmo 51
Este salmo faz parte do grupo denominado “Salmos Penitenciais” e tem como pano de fundo os momentos mais sombrios da vida do rei Davi, descritos em 2 Samuel 11 e 12, que narram a sua queda no episódio envolvendo Bate-Seba. É impressionante a diferença entre o Davi manipulador e cínico de 2 Samuel e o Davi deste salmo, em que podemos aprender como em nenhum outro lugar das Escrituras a respeito da justiça, o amor e perdão divinos bem como do pecado e da salvação. Este aprendizado torna-se mais especial pelo fato de ser fruto de uma experiência real de um pecador que, arrependido, clama pela graça restauradora de Deus. O salmista perscruta sua própria alma, explora as profundezas de sua culpa e conhece de maneira singular a magnificência e magnitude da graça de Deus.
1. A Oração de um pecador (vv.1,2)
A expressão presente na oração inicial de Davi (compadece-te/tem misericórdia de mim) retrata a linguagem daquele que pede algo consciente de que não merece aquilo que implora. O poeta não se queixa de inimigos ou qualquer fator externo, pois reconhece que ele mesmo é seu maior inimigo, restando-lhe clamar pela benignidade de Deus da qual é alvo não por ser o rei de Israel ou por qualquer mérito, mas pelas ternas misericórdias de Iavé. A palavra “misericórdia” é a mesma usada em Gn 43.30 em que o texto registra que José “se movera em seu íntimo” pelo seu irmão, corroborando que Davi apela à “entranhável compaixão” de Deus, para que não o trate de acordo com merecimento, mas segundo a própria compaixão divina.
Entretanto, perdão é mais do que a ternura de Deus pelo pecador, pois a mancha do pecado permanece bem como seu registro acusador. Por isso é necessário o ato divino de apagar as transgressões, da mesma forma que se apaga um registro numa folha de papel ou num quadro escolar. É a mesma ideia que Paulo apresenta em Cl 1.14, quando afirma que Jesus apagou, anulou, cancelou, na cruz, o registro de nossa dívida com o Pai. Na metáfora “lava-me completamente”, o verbo “lavar” mostra que Davi se sentia como uma peça imunda de roupa que precisava passar por uma intensa assepsia, sem a qual ele continuaria indigno da presença de Deus. Para nós, fica a palavra ainda mais clara do NT: 1Jo 1.7.
2. A Confissão de um pecador (vv.3-5)
Nada mais angustiante para aquele que teme a Deus do que sua própria consciência apontando-lhe o dedo acusador. É o que o salmista estava experimentando, pois seus pecados se avultavam diante dele: “... o meu pecado está sempre diante de mim” (v.3). A expressão “contra ti, contra ti somente pequei” (v.4) é uma expressão que leva ao âmago do problema do pecado. Embora a pessoa possa pecar contra si mesma e contra o próximo, a ofensa é, em última instância, contra Deus. Percebam o contraste: em 2Sm 11, a preocupação de Davi é consigo, buscando como esconder o pecado cometido; agora, sua preocupação é como agir com Deus. Não há justificativa para o pecado, por isso ele aceita a sentença de Deus, que jamais pode ser questionado quanto a sua justiça: “... para que sejas justificado quando falares e puro quando julgares” (v.4).
Quando olha para dentro de si, Davi passa a ter uma nova perspectiva a respeito do seu pecado, percebendo que este não era um evento contrário à natureza dele, pelo contrário, fazia parte dela, do seu caráter e de sua intrínseca perversão, resultado da raça degenerada à qual pertencia (v.5). Davi não está falando aqui contra sua mãe ou contra o processo pelo qual foi concebido. É, antes de tudo, a síntese de que os pecados são dele mesmo (os pronomes “meus”, “minhas” aparecem 5 vezes nos versos 1-3. Ver Is 6.5, Rm 3.23).
3. A restauração de um pecador (vv.6-9)
Não há restauração onde impera a mentira, mesmo que ela esteja escondida no mais íntimo da alma. Por isso o salmista pontua o amor de Deus pela verdade (v.6). Enquanto Davi tentou esconder seu pecado usando diversas artimanhas (mentira, assassinato, disfarces etc. – 2Sm 11,12), Deus não pôde realizar a restauração de sua vida. “Purifica-me com hissopo” alude à purificação do leproso conforme o ritual da lei levítica (Lv 14.6,7), que usava um ramo de hissopo para borrifar o enfermo com o sangue do sacrifício, ou ainda purificar aquele que tivera contato com um cadáver (Nm 19.16-19).
A obra restauradora de Deus é completa e eficaz deixando o antes imundo pelo pecado “mais alvo que a neve” e restaurando-lhe a alegria. O leproso, uma vez dado como curado pelo sacerdote, era reintroduzido ao convívio social, e o salmista mentaliza um quadro em que ele era restaurado à presença de Deus e seu povo, sendo recebido com exultação. Os ossos antes esmagados, agora estão prontos para saltar de alegria. Como é maravilhosa a restauração que Deus opera em nossas vidas! Quanta graça! Quanto amor! Quanto perdão!
4. A renovação de um pecador (vv.10-13)
A renovação de um pecador é um milagre de Deus. Esta é a ideia do verbo “criar” presente no v.10, que é o mesmo termo usado na história da criação, em Gênesis 1. É uma oração em prol da santidade (v.11). O homem desviado em seu pecado torna-se frívolo, instável, facilmente se deixa arrastar pelo caminho errado, daí o salmista pedir que seja renovado dentro dele um espírito inabalável. Quando um pecador tem sua vida renovada, resulta em um desejo ardente e uma premência da presença de Deus (v.11). O desejo do salmista é perseverar na presença do Senhor, para o quê, ele se oferece com prontidão (v.12b) recebendo do próprio Deus o antídoto eficaz contra a recaída: a alegria da salvação (v.12a). Assim é o crente em Jesus Cristo; ele não perde a salvação, mas a alegria de estar na companhia do Senhor, precisando de arrependimento genuíno para que haja restauração, renovação e o retorno da alegria. Por último, o pecador renovado se interessa em que todos os outros transgressores tenham seus olhos abertos para serem conduzidos também à mesma renovação da qual ele fora alvo (v.13).
5. A Adoração de um pecador renovado (vv.14-19)
Um coração preso pela culpa não consegue adorar a Deus. “Abre, Senhor, os meus lábios” (15a) é o grito de alguém cuja consciência o levou a ficar calado, envergonhado de sua inadequação diante do Santo. A expressão revela o clamor de quem anseia por adorar com liberdade e gratidão, como antes; e crê que, pela graça de Deus, assim o fará. A confissão sincera e o perdão obtido desanuviam a mente e o coração, colocando o homem novamente na condição de louvar o Senhor (15b). Os versos 16 e 17 trazem o alerta quanto à redução do culto a meros atos litúrgicos. Deus não estava rejeitando os sacrifícios que Ele mesmo ordenara nem dizendo que podemos escolher nossos próprios métodos para adorá-lo. O que o texto ressalta é que o melhor dos sacrifícios é rejeitado por Deus se não vier acompanhado de um coração contrito. Precisamos aprender que adoração é muito mais que atos simbólicos, é uma realidade pessoal oriunda de um coração que sabe quão pouco merece, quão grande é a sua dívida e quão esplendorosa é a graça de Deus.
Os últimos versos (18 e 19) mostram que um homem restaurado, renovado e transformado em adorador contrito não esquece o povo em meio do qual habita. Precisamos confessar os pecados pessoais, mas também lembrarmo-nos de interceder pelo povo que está distante de Deus e alheio às coisas espirituais, rogando as misericórdias divinas. Levantemos um clamor pelo bairro, pela cidade, pelo nosso país, lembrando o que nos diz 2 Crônicas 7.14.
Para pensar e agir
▪ Devemos sempre evitar o pecado; mas, se cairmos, há um remédio certo: a confissão. (1Jo 1.9).
▪ Lembre-se: a graça de Deus sempre será maior que qualquer pecado. Leia Rm 6.1 e 5.20.
▪ Só podemos adorar a Deus com a nossa vida purificada. Relembre a experiência de Isaías (6.1-8).
▪ Você se preocupa com a situação espiritual das pessoas que estão ao seu redor? Não deixe de clamar por elas!
Leitura Diária
segunda-feira Romanos 5.1-10
terça-feira Romanos 5.11-21
quarta-feira Romanos 6.1-11
quinta-feira Romanos 6.12-23
sexta-feira 1 João 1.5-10
sábado Salmo 32
domingo Salmo 51

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