terça-feira, 1 de junho de 2010

A RESISTÊNCIA ÀS HERESIAS

Texto Bíblico: 1 Coríntios 2.6-16

Um dos méritos de Paulo foi tirar o cristianismo do casulo do judaísmo e torná-lo uma fé universal. O evangelho é o vinho novo que não cabe em odres velhos (Mt 9.17). Paulo foi escolhido para esta missão (At 9.15,16). E lutou fortemente com os que queriam judaizar o evangelho (At 15.1-3). Ele entendeu que o evangelho era algo novo, que continuava a revelação dada aos pais, mas descontinuava o judaísmo.
Paulo é um misto de evangelista, missionário, teólogo e apologista. Sua pregação era muito bem definida e ele não permitiu sua distorção, expressando-a claramente (1Co 15.3,4 e 4.11).
Hoje veremos o apologista Paulo. Nossa época é de condescendência. O “politicamente correto” impõe concessões que desbotam o evangelho. É difícil hoje afirmar convicções. Este autor tem lido obras teológicas em que se fala muito do “olhar do outro”, eufemismo para dizer que a opinião do outro vale tanto quanto a nossa. Se for opinião pessoal, sim, vale mesmo. Mas se o olhar do outro for fora da Bíblia, está torto. Qualquer olhar fora da ótica bíblica está errado. Por isso é oportuno ver a postura de Paulo diante das heresias e aprender com ele.

1. O problema com os judaizantes
Os judaizantes surgem cedo (At 15.1-5). O evangelho nasceu no judaísmo, mas rompeu com ele em Atos 15. Os judaizantes queriam torná-lo uma seita judaica. Insistiram e perseguiram Paulo por toda a sua vida. Fizeram um estrago doutrinário nas igrejas da Galácia (Gl 1.6-10, 3.3 e 6.12). Aliás, o estudante da Bíblia deve ler toda a epístola, para ter uma ideia do ensino judaizante.
Paulo entendeu que a justificação pela lei anularia o evangelho (Gl 2.16-21). A justificação é pela fé em Cristo, e não pela lei (Rm 3.19-24, 26-28, e 5.1). Alguns hoje tentam rejudaizar o evangelho, desde a presença de símbolos judaicos no culto, como a menorah (castiçal de sete braços), a estrela de Davi (que pode ter sido desconhecida a Davi, tendo origem na cabala judaica) e a bandeira de Israel nos templos, até indumentária, como o quipá. Muitos cânticos se baseiam nos salmos, não nos evangelhos e nas epístolas, e certo tipo de liturgia (como danças) vem mais do templo judaico que das reuniões cristãs (que seguiram o modelo da sinagoga, de cânticos e estudo da Palavra). Há cristãos mais empolgados por Israel que pela igreja. Isto é perigoso. Pode levar a esquecer-se que só há salvação em Jesus. E que o verdadeiro povo de Deus é a igreja. Deus não tem dois povos. O povo de Deus é quem crê em Jesus como Senhor e Salvador. Quem não crê em Jesus está perdido, mesmo sendo judeu (At 4.11,12).
Não podemos varrer a cruz para baixo do tapete. Ela é central à nossa fé. O único Cristo digno de fé é o crucificado (1Co 1.18, Gl 6.14). Nosso monte é o Calvário, não o Sinai ou o Sião. Somos filhos da cruz, e não da lei. A salvação não vem pela lei, mas pela graça, por meio da fé (Gl 2.16, 3.11, Ef 2.8-9 e Tito 3.7). Isto não pode ser esquecido. Há “cristãos” que são inimigos da cruz, e seu fim é a condenação (Fp 3.18).

2. Gnosticismo: um movimento esotérico
O gnosticismo era um movimento esotérico que ensinava a salvação pela gnôsis, o conhecimento. Sobrevive hoje no racionalismo cristão e certas instituições secretas e ocultistas. Escritos antigos dão Simão, o mago (At 8.9-24) como gnóstico. Segundo fontes posteriores, ele se dizia divino e que sua amante era Helena de Tróia reencarnada. Os textos gnósticos são do segundo século de nossa era, mas eles já existiam na época do Novo Testamento. As cartas de João tratam mais detalhadamente do conflito com eles. Entre suas muitas heresias, negavam a corporeidade de Cristo, sua morte na cruz, sua ressurreição, bem como a nossa, e ensinavam a salvação por um conhecimento secreto. Opondo-se a isto, Paulo afirma que o verdadeiro mistério e o verdadeiro conhecimento estão em Cristo (1Co 2.6-16). Ao falar da ressurreição, ele afirma que Cristo ressuscitou e nós ressuscitaremos (1Co 15).
Alguns gnósticos eram docéticos (do verbo dokein, “parecer”) porque diziam que Jesus não era carne, apenas parecia. Para João, esta era a afirmação do anticristo (1Jo 4.2,3). Paulo diz que Jesus veio em carne (1Tm 3.16). Para os gnósticos, Cristo não morrera na cruz. A mensagem da cruz é central no ensino de Paulo. Ele vê a sabedoria gnóstica como falsa (1Tm 6.20,21). E não se importava com a sabedoria humana (1Co 2.1-5). Obviamente ele não falava do preparo intelectual, pois tinha grande capacidade cultural. Falava da gnôsis, o esoterismo gnóstico. Ao defender sua autoridade apostólica, criticou a sabedoria que vinha dos sofismas (argumento que parece válido, mas de fato não é verdadeiro). Os gnósticos louvavam-se a si mesmos, por sua sabedoria, e Paulo os ironiza: eles são insensatos (1Co 10.12). O apóstolo é duro contra eles (1Co 11.1-6), ao dizer que a simplicidade do evangelho estava sendo trocada pelo palavrório oco do esoterismo. É uma lição para nós: só há um Cristo, o crucificado, ressurreto, assentado à direita do Pai. O esoterismo é um discurso vazio. Não leva a nada a não ser à perdição.

3. A grande intervenção de Deus na história
Jesus veio na plenitude dos tempos (Gl 4.4). Mais tarde alguém dirá que ele é o clímax da revelação (Hb 1.1,2). Na transfiguração, ao tirar Moisés e Elias de cena, Deus disse para ouvirem a Jesus (Mt 17.1-5-8). Segundo Paulo, em Jesus Deus fez a sua mais espetacular intervenção na história. Por isso, “Cristo é tudo em todos” (Cl 3.11). É a expressa imagem de Deus (Cl 1.15). “Imagem” é grego eikon, “espelho”. Jesus é a face de Deus. Vê-lo é ver o Pai (Jo 14.8,9). Esta ideia era determinante da teologia de Paulo e ele não abria mão dela. Nada era maior que Jesus. Isto era o antídoto contra as heresias. Ele combatia tenazmente qualquer ensino que diminuísse o valor de Cristo.
As heresias atuais mostram um Cristo insuficiente. A pessoa é salva por ele, mas fica presa de demônios, de maldição de palavras, de maldição hereditária, e precisa da reza forte de um guru, para quebrar as maldições. Que tristeza: um Cristo fraco e demônios fortes. Cristo salva a pessoa, entra em sua vida, mas não consegue transformá-la e livrá-la do Maligno. Ela é nova criatura (2Co 5.17), mas nada muda, e só passa a ser nova mesmo quando alguém quebra alguma maldição em sua vida.
Nesta visão, o salvo precisa de alguma coisa além de Cristo. Eis a base das heresias: Cristo e algo mais. Ele é a Palavra de Deus (Jo 1.1-14), o clímax da revelação (Hb 1.1,2), a expressa imagem de Deus (Cl 1.15), tem um nome sobre todo nome (Fp 2.9-11). Mas os hereges insistem: Cristo e os dons, Cristo e outra revelação (Hellen White, Livro do Mórmon, escritos neopentecostais, bulas papais etc.).
Precisamos recuperar a centralidade da pessoa de Jesus Cristo na vida da igreja. Ela é dele. Ele a comprou. Pastores e líderes não são seus donos. Apenas tomam conta dela para ele. Precisamos pregar e ensinar sobre Jesus. Sua figura está desbotada em muito cântico, que fala dos sentimentos do adorador, mas não do Adorado. Culto em que Cristo não seja o centro, cântico em que Cristo não seja glorificado, pregação em que Cristo não seja anunciado é tudo problemático. Deve ser repensado.

Para pensar e agir
O antídoto às heresias é uma cristologia forte. Se a pessoa e a obra de Jesus são bem enfatizadas, a igreja está vacinada. Se perder Jesus de vista, a igreja corre riscos. Por isso, fazemos três observações.
1. Recuperemos o valor da cruz na fé cristã. “Sim na cruz, sim na cruz, sempre me glorio”. Amarremos nossas igrejas à cruz de Cristo.
2. A igreja é um evento cristológico. Seu carro-chefe não é o louvor, nem o pregador, nem sua eclesiologia. Cristo é a razão de ser da igreja.
3. Nada além do Novo Testamento. Cristo é o clímax da revelação, e no dizer de Lutero, “o cânon dentro do cânon”. Ele é a chave para se entender as Escrituras. Sem ele não há salvação nem entendimento.

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