sexta-feira, 28 de maio de 2010

Cristo: presente de Deus para o mundo

Texto bíblico: 2 Coríntios 5.18,19

Na política internacional do Oriente, o rei de uma nação, para se manter seguro, enviava presente a outro rei, de uma nação mais forte. Era um gesto de boas relações, uma maneira de buscar a paz. Poderíamos dizer que era um ato de “propiciação” , ou seja, “a remoção da ira mediante a oferta de algum presente”.
“Propiciação” vem de “propiciar”, que significa tornar favorável. O termo grego, usado em Romanos 3.25, é hilastérion, que significa que Deus se tornou favorável a nós pela morte de Jesus. Esta figura de linguagem mostra como Deus, de inimigos que somos, por causa de nossos pecados, faz de nós seus amigos. É a única vez que Paulo o usa, declaradamente, mas a ideia da ira afastada pelo sacrifício de Jesus domina boa parte do seu pensamento.
O verbo hebraico para “propiciar” é kipper, “fazer amizade, juntar partes em conflito”. No Novo Testamento, a ideia próxima é “reconciliação”, que se vê bem em 2 Coríntios 5.21. Deus ofereceu Cristo como presente ao mundo para fazer as pazes com este. Parece estranho, mas mostra que Deus tomou a iniciativa, em Jesus, de fazer as pazes conosco. Lembremos de João: “O homem não pode receber coisa alguma, se não lhe for dada do céu” (Jo 3.27). Propiciação é ato de Deus, e não nosso.

1. A ira e misericórdia de Deus
Como “propiciar” tem a ideia de pacificar por meio de um presente, alguns se escandalizam. Parece que está se subornando Deus. Mas é ele quem oferece e não quem recebe. E isto é uma figura de linguagem. Para outros, isto realça muito a ira de Deus. Mas Paulo diz que Deus se ira (Rm 1.18 e Ef 5.6). Ele é tardio em irar-se (Ne 9.17), mas se ira. E ira não é ódio. É indignação. Alguns acham que Paulo foi violento e não cristão com Barjesus (At 13.4-12). Mas o mago cometera graves pecados. Lidava com artes mágicas, era falso profeta e tentava desviar alguém do caminho da salvação. E Paulo não estava cheio de ódio, mas do Espírito Santo (At 13.9).
A propiciação se dá quando Deus tempera a ira e a misericórdia. Sua ira não é um descontrole emocional, mas faz parte da sua moralidade. Se ele não se indignasse contra o erro e o pecado, não seria santo. Por ser santo, ele se ira contra o pecado. Por ser Santo, tem misericórdia. Nele, ira e paciência se ajustam (Nm 14.18). Aqui surge a propiciação.

2. Como remover a ira de Deus?
Eis a resposta: a ira não se remove. Ela se desvia (Sl 78.38). O pecado tem um preço (Rm 6.23). É tão sério aos olhos de Deus que exige a morte do pecador. O pecado só é aniquilado pela morte. Deus instituiu o sacrifício no Antigo Testamento para ensinar esta lição. É a morte, o sangue derramando, que faz a propiciação ou expiação dos pecados. Expiação (de dois fazer um ou reaproximar dois que estão distantes e em inimizade) é um conceito parecido com o da propiciação. A última avança por incluir a ideia de um presente.

3. A ideia do tabernáculo
O tabernáculo era o templo móvel de Israel, na caminhada pelo deserto. Era a morada de Deus, lugar de encontro com ele (Êx 33.7-11). Tinha o lugar santo, onde ficava o povo, e o santíssimo ou santo dos santos, onde o sumo sacerdote entrava uma vez por ano, para fazer a expiação do pecado do povo. No santíssimo ficava a arca da aliança. O nome da sua tampa era kaporeth, de um verbo da família kpr, que significa “propiciar” (Êx 25.17-22). Ali o mais perfeito ato de expiação acontecia uma vez por ano. O lugar mais importante e solene do tabernáculo era onde sucedia a propiciação. Ofertava-se a Deus para sua ira se afastar do povo. O sangue era derramado sobre a tampa da arca, chamada “propiciatório”. Propiciação e perdão andam juntos, na Bíblia. Paulo não se detém em explicar a figura, mas ela está presente em seus escritos. A expiação livrava da condenação do pecado.
O propiciatório simbolizava a cruz de Cristo, onde se efetuou o perdão dos pecados. Com uma diferença: a cruz não tem prazo de validade. No judaísmo, o perdão durava um ano. O perdão da cruz é eterno. Ela resolveu o problema do pecado para sempre (Hb 9.11-14). Cristo é o Cordeiro que remove o pecado do mundo (Jo 1.36). A propiciação, no judaísmo, simbolizava a obra de Cristo em remover os pecados e reconciliar com Deus (2Co 5.18,19).
O dia em que o sumo sacerdote entrava no santíssimo (yom kippur, o dia do perdão) era a única ocasião em que o nome de Deus era claramente proferido. O nome sagrado de Deus, que não se dizia mais no tempo de Jesus, expressava o caráter do Pai. O caráter do Pai está ligado à propiciação. Seu caráter nos garante o perdão dos pecados. Não é o nosso caráter, é o dele.

4. A obra de Cristo
Em Lucas 18.13, o publicano pede que Deus seja “propício” a ele, ou que seja sua “propiciação”. Ele precisava de perdão. O fariseu achou que não precisava, porque era bom. Deus lhe devia isto. O publicano sabia que não era bom, nada tinha de bom, e que só teria o perdão como propiciação. Ele devia a Deus. Jesus define sua missão, nesta parábola. Ele é o presente divino que reaproxima duas partes afastadas, Deus e o homem. E mostra dois tipos de pessoa. Uma que acha que não precisa de perdão, que Deus deve estar contente com ela. Outra que sabe que precisa de perdão, não o merece e pede um favor a Deus.
A propiciação é um ato de misericórdia de Deus, quando esta triunfa sobre sua ira. Paulo mostra o sangue de Jesus como nossa propiciação (Rm 3.25). Ele completa a figura do resgate, que já estudamos. A morte de Cristo na cruz leva Deus a nos ser propício.
Jesus fez a propiciação pelos nossos pecados (Hb 2.17). Ele presenteou o Pai com sua vida para nos conseguir o perdão. Aqui, a oferta é do Filho. Não há choque com textos que dizem que o Pai ofereceu o Filho. A Trindade não entra em conflito, mas age sempre em sintonia. É que Hebreus põe o Filho como agente no processo da salvação.
Jesus é a propiciação pelos nossos pecados (1Jo 2.2). Por isso ele é nosso Advogado, junto ao Pai (1Jo 2.1) Como o publicano, não podíamos pagar nosso débito. Jesus o pagou e por isso nos defende. Não devemos mais a Deus porque Jesus pagou os nossos pecados com a sua vida. Não se paga um débito duas vezes. Diz o Novo Comentário da Bíblia neste texto: "Tudo isso nos ajuda a perceber que, aqui, a ‘propiciação’ deve ser tomada em seu sentido usual nas Escrituras. O escritor sagrado estava descrevendo a atividade de Jesus em prol dos homens, como a única coisa que pode fazer desviar a ira divina”.
Em 1João 4.10, o Filho é o presente dado pelo próprio Pai. Difere do pensamento de Hebreus. Mas o que interessa é que não é um presente nosso. Não temos o que oferecer. O Pai ofereceu o Filho. Aqui, não é o Filho que se presenteia ao Pai, mas é o Pai quem oferece o Filho ao mundo. A morte de Cristo é um gesto de amor do Pai (Rm 5.8). Isto é confirmado em Romanos 3.25,26, onde o Pai oferece o Filho como propiciação. Quem crê no poder do sangue de Jesus é perdoado. Um rei guerreava outro por ambição ou por se sentir ofendido. O pecado ofende a Deus e o levaria a nos guerrear, mas em Cristo ele nos estende a mão para fazer as pazes. A propiciação é ato de Deus, oferta do Pai e oferta do Filho.

Para pensar e agir

1. Deus deseja manter bom relacionamento conosco e para estabelecer esta amizade nos ofereceu Jesus Cristo. Ele é o grande presente de Deus à humanidade.
2. O perdão dos nossos pecados só é possível por causa de Jesus Cristo e é um perdão para sempre.
3. É pela fé na morte de Cristo em nosso lugar que temos paz com Deus (Rm 5.1). Não é o que somos ou o que fazemos. Ele fez. Isto é graça. Nós nos apropriamos. Isto é fé. Leia Efésios 2.8,9.

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