terça-feira, 27 de abril de 2010

Jesus: a mão amiga de Deus

Texto bíblico: 2 Coríntios 5.18-20

Uma questão muito discutida quando se analisa o pensamento de Paulo é qual é o centro ou ponto básico do conteúdo de sua mensagem. Durante muito tempo, por causa da Reforma Protestante, da qual somos herdeiros, afirmou-se que o ponto central do pensamento de Paulo fosse a “justificação pela fé” (nosso próximo assunto). Mas, sem depreciar esta doutrina, nos últimos tempos os teólogos têm apontado outra doutrina exposta pelo apóstolo, e a veem como seu pensamento central, a doutrina da reconciliação. Isto não diminui a doutrina da justificação pela fé, como veremos no próximo estudo. Pelo contrário, amplia-a. Mas fiquemos hoje com a doutrina da reconciliação.
Ela ocorre de forma bem clara em quatro conhecidas passagens: Romanos 5.10,11, 2 Coríntios 5.18-20, Efésios 2.11-16 e Colossenses 1.19-23. O texto clássico, que é seu suporte, é 2 Coríntios 5.19: “Pois que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões; e nos encarregou da palavra da reconciliação”. O conteúdo do evangelho fica bem claro: ele é uma chamada de Deus para os homens se reconciliarem com ele. Esta é a boa nova: Deus deseja ter bom relacionamento com os homens. O substantivo grego para “reconciliação” é katallagê, cujo sentido é “cessação de inimizade”. A ideia é que duas partes que antes eram hostis agora são amigas. É disto que trata a doutrina da reconciliação: Deus e o homem, antes em campos opostos, se tornam amigos na pessoa de Jesus.

1. A inimizade entre Deus e o homem
Isto quer dizer que o homem fora de Cristo não está reconciliado com Deus, e que a inimizade entre os dois permanece. Algumas pessoas objetarão a isto, dizendo: “Como Deus pode ser inimigo de alguém, se ele é amor?”. Evitemos raciocínios simplórios e argumentos baseados em sentimentalismo humano. A questão para nós deve ser sempre esta: o que a Bíblia diz sobre o assunto? Ela é a autoridade, e não os nossos sentimentos ou nossas impressões.
Romanos 8.7 e Tiago 4.4 são passagens bíblicas que mostram haver uma inimizade entre o homem não regenerado, seus impulsos e tudo o que o domina e Deus. Se nos curvamos diante do ensino bíblico, temos que reconhecer que Deus não é o Papai Noel ou a fada madrinha que tantos imaginam (“Deus é Pai, tudo vai resolver”, ou “Quem ama não castiga”). Deus é moral e é justo e os pecadores não reconciliados são seus inimigos, como lemos em Romanos 5.10, Colossenses 1.21 e Tiago 4.4. O homem sem Cristo não é um coitado, e sim um rebelde contra Deus.
Isto sucede não porque Deus seja caprichoso ou rabugento, mas porque, diferentemente de nós, sendo absolutamente santo, ele está em veemente oposição a toda forma de mal. Apesar de dizermos que somos bons e de acentuarmos nossos sentimentos positivos, somos pecadores e como tais amamos o erro e praticamos o mal. Quanto a Deus, lembremos desta expressão de Habacuque: “Tu que és tão puro de olhos que não podes ver o mal, e que não podes contemplar a perversidade...” (Hc 1.13a). Esta inimizade não é de sentimentos. Alguém pode gostar de Deus, de assuntos espirituais, ser bondoso, mas a inimizade é moral e não sentimental. Tem bases teológicas e não sentimentais. Ela existe, apesar de nossas boas intenções.
Se entre Deus e o homem há uma inimizade estabelecida, para um bom relacionamento esta há que ser desfeita.

2. Como desfazer a inimizade?
Como é possível desfazer a inimizade? Por sucessivas reencarnações, que supostamente nos tornariam melhores? Pela prática de boas obras? Por cerimônias religiosas que acalmariam a Deus? A resposta está em 2 Coríntios 5.18,19: “Mas todas as coisas provêm de Deus, que nos reconciliou consigo mesmo por Cristo, e nos confiou o ministério da reconciliação; pois que Deus estava em Cristo reconciliando consigo o mundo, não imputando aos homens as suas transgressões; e nos encarregou da palavra da reconciliação”. Deus tomou a iniciativa de cessar a inimizade. Ele nos propõe a paz em Jesus. Ele nos estende a mão, na pessoa de seu Filho. É obra de sua graça, é ato de sua bondade. Ele tornou isto possível! A cruz é o aceno de amor de Deus.
O Novo Testamento não diz que Cristo nos reconciliou com Pai, à revelia deste. Os versículos 18 e 19 são claros. O Pai nos reconciliou consigo, em Cristo. A iniciativa foi dele. O Pai não é um colérico com tendências homicidas, a quem um Filho adocicado vem acalmar, para conseguir nosso perdão. Deus Pai é amor (1Jo 4.8). Algumas ilustrações contadas em sermões fazem de Deus um destrambelhado, furioso, querendo vingança ou justiça a todo custo (o AT também) e mostram Jesus como um filho adocicado que aplaca a cólera deste pai iracundo. Como a do rei que mandou chicotear um súdito fraquinho, que o filho do rei viu que não aguentaria as chicotadas, e então tirou a camisa, afastou o súdito fraquinho e tomou as chicotadas em seu lugar, acalmando a fúria do rei. Esta ilustração ofende a Deus, fazendo dele um ensandecido raivoso. E desvirtua o relacionamento entre Deus Pai e Deus Filho. Na reconciliação, os dois não estão em campos opostos: “Deus estava em Cristo”. A cruz também foi dolorosa para o Pai. A cruz é uma proposta do Pai e do Filho. A Trindade não tem conflitos de relacionamento e o Pai e o Filho se amam (Jo 14.31, 15.9, 17.23 e 17.26).
A ênfase do ensino neotestamentário é que o homem deve se reconciliar com Deus: “Rogamos-vos, pois, por Cristo que vos reconcilieis com Deus” (2Co 5.20b). É o pecado que causa a inimizade entre Deus e o homem. Cristo morreu para levar nossos pecados (2Co 5.21). Não há motivo para continuarmos em inimizade. Somos chamados a sermos amigos de Deus. A Linguagem de Hoje traduziu, de maneira feliz, 2 Coríntios 5.18 assim: “Tudo isso é feito por Deus, o qual, por meio de Cristo, nos transforma de inimigos em amigos dele”. Como dizia um antigo folheto da Cruzada Mundial de Literatura: “Ele quer ser seu amigo”.

3. Um episódio curioso
Em 1965, soldados japoneses foram capturados em ilhas remotas do Pacífico. Eles não acreditavam que a Guerra acabara em 1945, e ainda continuavam escondidos, em florestas, lutando. Um deles foi capturado e voltou para dizer aos demais que a Guerra acabara havia vinte anos. Alguém comentou sobre eles: “Gente estranha esta, lutando numa guerra que havia acabado há vinte anos!”. Mas muito mais estranho é o tipo de gente que continua lutando contra Deus, dois mil anos após Cristo ter acabado com a inimizade na cruz.
Não há mais motivos para manter-se afastado de Deus. Ele nos reconciliou em Cristo, e nos oferece a mão de amizade. A nós compete aceitar sua mão amiga, e à igreja compete a compreensão de que ela chama os homens a refazerem o bom relacionamento com Deus: “De sorte que somos embaixadores por Cristo, como se Deus por nós vos exortasse. Rogamos-vos, pois, por Cristo que vos reconcilieis com Deus” (2Co 5.20).

Para pensar e agir


1. Estamos separados de Deus por causa de nossos pecados, somos inimigos dele, porque ele é santo. Esta inimizade foi criada por nós, e desfeita por ele, na cruz. Em Jesus, Deus nos chama à reconciliação e nos oferece sua amizade.
2. Nada há que possamos fazer que venha nos reconciliar com Deus. Ele fez a reconciliação. É obra dele. A parte ofendida tomou as medidas para acabar a inimizade e a nós cabe aceitar seu gesto de amor. Deus quer voltar a andar com os homens, como fazia no Éden. Em Jesus, ele veio habitar conosco (Jo 1.14) e quer ser nosso amigo.
3. A igreja tem a responsabilidade de anunciar ao mundo que há uma reconciliação proposta por Deus e chamar as pessoas a fazerem as pazes com ele (2Co 5.18, 20). Evangelização e missões são a igreja dizendo ao mundo que Deus estende a mão amiga na pessoa de Jesus.

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