quinta-feira, 18 de março de 2010

Uma carreira vitoriosa

Texto bíblico: 2 Reis 13.14-25

Eliseu é o exemplo do servo de Deus que combate os poderosos em suas injustiças e é compassivo com os humildes em suas carências. Trata-se de uma virtude rara entre os seres humanos, mesmo em se tratando de homens e mulheres de Deus. A tendência – muito natural, muito humana, mas também muito diabólica – é que nos curvemos diante dos primeiros e nos exaltemos diante dos segundos. Jesus Cristo levou esta atitude profética às últimas consequências, indo, entretanto, além, no fato de morrer em favor de todo aquele que é capaz de se arrepender e crer.
Exercendo seu ministério profético num ambiente de crise nacional causada pela guerra e pela fome, Eliseu foi um fiel porta-voz da mensagem divina ao seu povo e aos estrangeiros. Foi também um instrumento poderoso nas mãos de Deus, sendo usado repetidas vezes na concretização de milagres de provisão, livramento e restauração em favor tanto de pessoas individuais quanto da coletividade.
Do sucessor de Elias se pode dizer que ele se enquadra com perfeição na moldura do combatente da fé plenamente habilitado à coroa da justiça, nos termos da autodescrição apostólica em 2 Timóteo 4.7.


1. O desespero do rei (vv.13,14)

Para a principal autoridade pública de Israel, com um enorme peso de responsabilidade sobre os ombros, não era fácil perder o apoio de um vulto religioso da estatura de Eliseu. O rei Jeoás foi um dos muitos soberanos israelitas que fizeram “o que parecia mal aos olhos do Senhor” (2Rs 13.11). Não cometeu, porém, o pecado de depreciar a importância de um grande profeta como Eliseu. Em seu leito de morte, Eliseu recebe a visita de um monarca preocupado e aflito até às lágrimas (v.14).
Ocorre, então, o que muitas vezes se passa na experiência do cristão, quando procura consolar a alguém e acaba ele próprio sendo consolado. O rei percebe que o momento da partida do profeta chegou. Profere então as mesmas palavras que Eliseu dissera quando viu Elias subir ao céu (2Rs 2.12). É possível que a esta altura estas palavras já fossem uma espécie de provérbio emIsrael, recitado a propósito da morte de alguma figura que vivera uma vida reconhecidamente santa. Não é nenhum exagero dizer que, em sua morte, todo servo bom e fiel terá à sua disposição as carruagens do Senhor para transportá-lo ao reino celestial.
O rei tem todas as razões para lamentar a morte do profeta, especialmente num momento em que as fronteiras do país eram ameaçadas por vizinhos hostis como Síria e Judá. Mas, como foi dito, a consolação lhe vem da parte daquele a quem procurava consolar.

2. Uma fé limitada (vv.15-19)

Provando a veracidade da afirmativa do salmista sobre a fértil velhice do justo (Sl 92.14), Eliseu, mesmo em seu leito de morte, prossegue em sua missão profética. A esta altura, ele está no mínimo com oitenta anos. Seu ministério foi e é decisivo na vida dos israelitas. Como Elias, também seu nome não aparece na galeria dos heróis da fé em Hebreus, mas com certeza ele consta da relação dos que pela fé “venceram reinos, praticaram a justiça, alcançaram promessas, fecharam a boca dos leões, apagaram a força do fogo, escaparam do fio da espada, da fraqueza tiraram forças, na batalha se esforçaram e puseram em fuga os exércitos dos estranhos” (Hb 11.33,34).
O estilo de sua profecia é o mesmo de sempre, à base de afirmações específicas e de um eficaz uso de ações simbólicas. Somos o povo da palavra e contamos, nos arraiais batistas, com grandes mestres da oratória sacra. Temos, porém, uma grave deficiência no uso do simbolismo profético, o que acaba limitando nossa capacidade de comunicação.
Quando o exército de Israel tentava de novo entrar em Ai, Josué estendeu sua lança na direção da cidade, ferindo-a simbolicamente (Js 8.18). A vitória veio confirmar o gesto. Agora, Eliseu ordena ao rei que ponha a mão sobre o arco. No original hebraico, a idéia é de que Jeoás “cavalgue” o arco se ele fosse uma carruagem. O profeta põe sua mão sobre a do rei, mandando em seguida que este aponte na direção do Oriente e atire a flecha. Pronuncia as palavras da promessa de vitória e diz ao rei que continue a atirar, agora na direção da terra (13.15-18).
A direção é o Oriente, isto é, o Leste, mas Damasco, a capital da Síria, ficava a Nordeste. A explicação é que as setas iriam na direção da parte do território israelita, a leste do Jordão, controlado pelos sírios após terem expulso as forças de Israel.
Como no caso das vasilhas de azeite (2Rs 4.1-7), a limitação humana limita a operação do poder de Deus. O rei dispara somente três flechas na direção indicada, quando precisava fazê-lo no mínimo o dobro, caso desejasse uma vitória completa (v.19). Muitos de nós somos assim limitados. Nossa medida de fé não abarca o conjunto total das situações e circunstâncias. Desejamos pouco, ambicionamos menos ainda e aceitamos os limites de uma vida conformista e medíocre. No caso específico, Jeoás obteve exatamente o número de vitórias que seus limites de fé projetaram (1Rs 13.25).

3. Um imenso poder (vv.20,21)

Assim como pela fé Abel depois de morto ainda fala (Hb 11.4), por ela também Eliseu depois de morto ainda age. O episódio não é de fácil interpretação e aceitação. Em geral, os túmulos orientais não são cavados na terra e sim na rocha, a qual é fechada com uma grande pedra. A narrativa dá a entender que um grupo de israelitas estava sepultando o corpo de um homem, quando, repentinamente, surgiu um comando moabita. Eles então atiraram o corpo rapidamente para dentro de uma cova, que coincidiu ser aquela onde se encontravam os ossos de Eliseu, morto anos atrás.
A versão mais próxima dos fatos é que quando viram os moabitas chegando, aqueles que sepultavam o homem retiraram às pressas a pedra do primeiro túmulo que puderam e lançaram o corpo lá dentro. E aí se cumpriu o mais extraordinário dos milagres relacionados a Eliseu: ao tocar os ossos do profeta, o morto ressuscitou e “se levantou sobre os seus pés” (v.21).
A exemplo de sentenças judiciais, que não são para ser discutidas e sim cumpridas, fatos bíblicos exigem que se creia neles. Assim como o máximo que se pode fazer em relação às decisões da justiça é saber se são baseadas ou não na lei, em relação aos fatos relatados na Bíblia o máximo que se pode fazer é procurar saber se são fatos mesmo ou fruto do excesso de imaginação de alguém. No caso em questão, o texto apresenta como um fato categórico um fenômeno incomum, sem paralelo em outras partes da Bíblia. Contudo nada autoriza ninguém a descrer do fato quando se considera que não é o profeta nem seus ossos que operam o milagre, e sim o poder de Deus. E para Deus não há coisa difícil ou impossível (Gn 18.14).
Uma advertência que cabe aqui se refere ao cuidado que se deve ter em relação às chamadas relíquias. É possível que se entre os que presenciaram o milagre dos ossos estivesse algum dos falsos profetas de nossos dias, ele arranjaria um jeito de coletar os fragmentos dos ossos do profeta e sair vendendo como indutores de milagres. Talvez não ficasse nisso e pegasse ossos de outras pessoas, ou até de animais, dizendo serem do profeta. Uma coisa é ser um crente de verdade, com a fé baseada na existência de Deus e em seu poder de, em Cristo, abençoar os que o buscam (Hb 11.6). Outra muito diferente é ser crédulo, ingênuo, deixando-se manipular pelos charlatães que proliferam no âmbito da crença religiosa.

Para pensar e agir

O homem e a mulher de Deus glorificam ao Senhor tanto em sua vida quanto em sua morte – e mesmo depois dela (Fp 1.20). A brilhante carreira do grande profeta que foi Eliseu é um exemplo, um estímulo e uma inspiração para todos aqueles que buscam servir a Deus por meio da porção multiplicada do Espírito Santo por Ele concedida aos herdeiros de seu reino eterno.

Leitura Diária:

Seg: 2Reis 13.14-19
Ter:2Reis 13.20-25
Quart: 2Reis 18.1-7
Quint: 2Reis 23.1-6
Sext: Salmo 71.1-1-9
Sáb: Lucas 9.1-6
Domingo: 2 Timóteo 3.10-17

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