segunda-feira, 8 de março de 2010

Manancial da graça divina

Texto bíblico: 2 Reis 8.1-15

O deserto da sede e da fome físicas pode ser o caminho para o manancial da graça divina que mata a fome e a sede da alma. Na Bíblia, a peregrinação pelo deserto frequentemente se torna a oportunidade para orações como a de Davi: “Ó Deus, tu és o meu Deus; de madrugada te buscarei; a minha carne te deseja muito em uma terra seca e cansada, onde não há água” (Sl 63.1). Nesta lição, nosso primeiro destaque vai para a experiência da sunamita que deixa sua terra para escapar à fome e depois, por influência do profeta Eliseu, recobra o patrimônio que havia perdido na fuga.
Outro ponto a realçar é a dor do profeta ao enxergar o futuro de sofrimento que esperava por Israel. Quando uma nação, um grupo ou uma pessoa não são capazes de discernir, no tempo oportuno, o que à sua paz pertence, permanecem vulneráveis diante de seus inimigos (Lc 19.42,43). Colhemos o que semeamos. A fidelidade ao Senhor e aos seus mandamentos garante para nós a certeza de que nosso futuro nos trará tempos de refrigério, em lugar dos dias de angústia e trevas.

1. Após sete anos (vv.1-6)

A semeadura de amor e compaixão que fazemos na seara do Senhor continua dando frutos ao longo de nossa jornada, muito tempo depois do plantio inicial. A forma reverente e solidária como tratou o profeta Eliseu trouxe muitas bênçãos para a vida da rica mulher de Sunem, a começar pelo fato de gerar um filho e depois reconquistá-lo pela ressurreição (2Rs 4.14.37). Agora, ela continua sendo abençoada. O profeta lhe dá uma atenção especial, aconselhando-a a emigrar para a terra dos filisteus enquanto durasse a fome em Israel (8.1).
Passado esse tempo, ela retorna e consegue reconquistar suas terras e seus bens, mais uma vez por influência de Eliseu. Sabendo que era ela a mulher a quem se referia Geazi como a mãe do menino ressuscitado, o rei ordena que tudo lhe seja restituído (v.6). Quando os verdadeiros homens de Deus são tratados com o devido respeito e consideração, sua influência a favor de uma ou mais pessoas pode ser decisiva para abrir as janelas do céu (e da terra) sobre elas.
Outro ponto a destacar é o cuidado que o profeta dedica a uma pessoa individual. O verdadeiro homem de Deus cuida de pessoas de carne e osso, não de estatísticas e abstrações. Hoje, lamentavelmente, tem prevalecido na cultura falsamente evangélica adotada por muitos a imagem do pastor empresário, do pastor executivo, do pastor superstar, que comandam corporações eclesiásticas em vez de igrejas e cuidam de projetos em vez de cuidar de pessoas. Esse tipo de funcionário religioso está muito longe do perfil – para usar um termo atual – do verdadeiro homem de Deus.

2. Um profeta em Damasco (vv.7-9)

O objetivo da presença de Eliseu em Damasco é levar a termo o cumprimento do segundo item da missão atribuída por Deus a Elias no monte Horebe (1Rs 19.15,6). O primeiro fora a escolha do próprio Eliseu como sucessor do tisbita. O terceiro ainda está por ocorrer, cumprindo-se quando um jovem profeta unge a Jeú como rei de Israel (2Rs 9.4-13). Todos esses passos têm por finalidade a execução do juízo de Deus contra a dinastia de Acabe.
Enviado pelo rei a quem depois matará e sucederá, Hazael vai ao encontro do profeta com um presente e uma pergunta. O presente é para que se cumpra o que estava prescrito em Êxodo 23.15 no sentido de que ninguém se apresentasse diante de Deus com as mãos vazias. Em Israel, este preceito legal criou a tradição de presentear-se um homem de Deus quando de uma visita a ele (1Sm 9.7 e 1Rs 14.3). É oportuno indagar, portanto, por que tanta gente que afirma ter um compromisso com Jesus Cristo, sendo inclusive membro de sua igreja, sonega-lhe dízimos, ofertas e outros itens da mordomia cristã, sempre apresentando-se diante dele de mãos vazias.
A pergunta do rei era sobre se sararia da doença de que estava acometido. A resposta do profeta é negativa, mas Hazael a inverte, afirmando ao rei que ele sarará. Só que a “cura” veio por meio da morte por assassinato, cometido pelo próprio Hazael (v.15).

3. Entre a vida e a morte (v.10)

Bem pensadas as coisas, todo ser vivo está entre a vida e a morte. Se é certo que a probabilidade de morrer é maior para quem sofre de uma doença grave, é também exato que existem muitas outras formas de deixar este mundo e que nem sempre quem recebe uma sentença de morte imediata ou breve morre logo a seguir. O exemplo de Ezequias demonstra que a oração fervorosa é eficaz para levar o Senhor a reverter o quadro terminal de quem o serve com fidelidade (2Rs 20.1-7).
Contudo, ainda que sejam acrescentados muitos dias ao período após o qual estamos destinados a partir, precisamos ter em mente que, em termos de servir a Deus, testemunhando de seu evangelho e trabalhando por seu reino no mundo, nosso tempo é sempre muito limitado, precisando ser aproveitado com sabedoria e diligência.

4. O pranto do profeta (vv.11,12)

Em sua entrevista com Hazael, o profeta chora (v.11). A exemplo do que ocorreu com Jesus quando contemplou Jerusalém e previu seu trágico futuro (Lc 19.41-44), Eliseu não tem como se conter quando profetiza o que Israel sofrerá por intermédio daquele que virá a ser o rei da Síria. A profecia efetivamente se cumpre, com os horrores previstos por ela sendo sintetizados na frase de 2 Reis 10.32: “Naqueles dias começou o Senhor a diminuir os termos de Israel; porque Hazael os feriu em todas as fronteiras de Israel”.
Temos aqui mais um exemplo da grandeza espiritual de Eliseu. Ele é capaz não apenas de ver o que espera por Israel, percepção que é em si um sinal de intimidade com Deus e de um agudo senso de realidade, mas associa-se a seu povo no lamento antecipado em relação ao destino da nação israelita. Quando vemos a situação do Brasil hoje, é possível perceber que a sistemática agressão aos princípios e valores da doutrina e da moralidade cristãs são ventos cuja semeadura não permite prever outra colheita futura senão a de muitas tempestades.
E de fato, os homens e mulheres de Deus que amam seu país e seu povo e que permanecem capazes de perceber o que vem pela frente não têm como conter o pranto.

5. Mais do que um cão (vv.13-15)

Uma das principais lições da vida consiste em evitar o erro de subestimar quem quer que seja e de desprezar o dia das pequenas coisas. Embora a seus próprios olhos Hazael fosse apenas “um cão”(v.13), o profeta vê nele o futuro rei da Síria. Deus lhe revelara este fato e o profeta creu na revelação. Este é um dos méritos de Eliseu e que, por extensão, qualifica todo verdadeiro profeta: acreditar no que Deus revela, ainda que humanamente falando as evidências apontem na direção contrária.
Como ocupante do trono sírio, Hazael cumpriu o papel de operar o juízo divino contra Israel e Judá, segundo a profecia de Elias (1Rs 19.15-17). Seus métodos radiciais, já vistos por ocasião do assassinato de Bene-Hadade, levaram o profeta a Amós a profetizar a punição da Síria por parte do Senhor 1.4. O fato de Deus usar um líder ou uma nação para punir outros líderes e nações não lhes dá o direito de agir com crueldade.

Para pensar e agir

Eliseu é um homem usado por Deus não apenas no trato dos grandes assuntos de Estado, mas também nas questões individuais, como no caso da sunamita. O profeta autêntico é aquele que se interessa pelas noventa e nove ovelhas, mas não deixa de ir em busca da única que se extraviou.
Sendo capaz de perceber por divina revelação o que Deus irá fazer no futuro das pessoas e das nações, o verdadeiro homem de Deus não apenas profere os oráculos divinos, mas participa do sofrimento de seu povo. Ele é também capaz de ver em pessoas humildes, que vivem dentro de um âmbito comum e limitado, aqueles por intermédio de quem Deus cumprirá seus desígnios no mundo.

Leituras Diárias:
Segunda: 2Reis 8.1-15
Terça: 2Reis 20.1-7
Quarta: 2Reis 16.10-20
Quinta: 2Reis 17.1-6
Sexta: 2Reis 17.24-33
Sábado: Salmo 116.1-19
Domingo: Isaías 60.1-5

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