terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Tempos de crise

Deus tem abrangentes respostas prospectivas para os que o buscam de todo o coração, mas sua forma de agir não se limita às promessas genéricas. Para cada situação concreta, no momento mesmo em que ocorre, Ele apresenta soluções específicas, que, se acatadas, sempre levam a livramentos e vitórias.
Texto bíblico: 2 Reis 3.4-27

A presença de Deus nos assuntos internos de cada nação, bem como nas relações da comunidade internacional, nem sempre é percebida e valorizada. Em geral, pensa-se que o que acontece ou deixa de acontecer é mero efeito das demandas políticas e da situação econômica. Para desmentir essa visão, basta analisar alguns episódios da história de Israel registrados na Bíblia. Quando, por exemplo, a ação profética permeia os fatos ligados a um conflito militar, como no texto que estudaremos agora, pode-se conhecer um pouco mais do poder e da sabedoria de um Deus que é Deus de longe, mas é também Deus de perto (Jr 23.23,24).

1. Situação crítica (vv.4-10)

Filho e sucessor de Acabe, o rei Jorão também “fez o que era mau aos olhos do Senhor” (v.2), embora tenha executado um ou outro ato contra o baalismo. Indo à guerra contra os moabitas, ele não faz o que era uma praxe nas iniciativas de Davi e de outros monarcas fiéis a Jeová: saber se o Senhor autorizava a ofensiva e quais as estratégicas e táticas determinadas por ele. O máximo de concessão que faz a propósito é aliar-se a Jeosafá, rei de Judá, um governante fiel a Deus como o fora seu pai, Asa. Conhecendo os desvios religiosos do Reino do Norte, Jeosafá, não obstante, manteve-se em boas relações políticas com Acabe e seus sucessores.
Juntos com o rei de Edom, os dois reis e suas tropas se vêem em dificuldades no deserto. Como é típico do homem natural, Jorão culpa pela crise o Deus a quem não buscara (v.10). Em seu desespero, é socorrido pela sugestão de Jeosafá no sentido de que consultem a Deus através de “algum profeta do Senhor”. Nos momentos extremos, o homem ou a mulher de Deus sempre terão a melhor orientação e a melhor solução para apresentar.

2. Que tenho eu contigo? (vv.11-14)

Eliseu é lembrado por um oficial de Jorão como aquele que “deitava água sobre as mãos de Elias”, expressão que revela a estreita relação entre Elias como senhor e Eliseu como servo. Jeosafá conhece Eliseu e sabe que ele é um fiel homem de Deus (v.12). A recepção que Eliseu dá ao rei de Israel é áspera e totalmente hostil: “Vai ter com os profetas de teu pai, e com os profetas de tua mãe” (v.13), ou seja, com os profetas de Baal patrocinados por Acabe e Jezabel. A presença de Jeosafá salva mais uma vez Jorão. Em consideração a ele, Eliseu se dispõe a consultar o Senhor.
Lição importante aqui é que o servo do Senhor, como no caso de Jeosafá, deve sempre manter-se em boas relações com todas as pessoas, mas especialmente com os domésticos da fé. Haverá sempre alguma coisa que um irmão possa fazer pelo outro.

3. Música e profecia (v.15)

Com a convicção de quem sabe diferençar entre o falso e o verdadeiro, Jeosafá afirma que está com Eliseu a palavra do Senhor (v.12). E a palavra vem ao profeta no momento em que um músico tangia seu instrumento, provavelmente uma harpa ou lira. Por assim dizer, usando um termo da eletricidade, a música é um bom condutor espiritual – para o bem ou para o mal. Quando Davi tocava, Saul se acalmava (1Sm 16.14-23). Certos tipos de música – inclusive, em certos casos, dentro da igreja – produzem tensão e inquietação e levam a pessoa para mais longe de Deus.
Um destaque especial precisa ser dado ao instrumentista aqui usado por Deus para revelar-se ao profeta. Nada se sabe de sua identidade pessoal. Anonimamente, ele cumpre um papel de enorme relevância em um momento crítico da história de seu povo. A lição que fica é que o servo do Senhor deve colocar seus talentos e capacidades à disposição de Deus, sem buscar para si glória ou lucro. Esta consciência de entrega e humildade é particularmente importante para as pessoas que trabalham na área da música, sabendo-se como são continuamente tentadas pelos demônios da fama e da riqueza.

4. Água e esperança (vv.16-20)

A palavra do Senhor se expressa de maneira genérica, mas também específica. Ela pode se manifestar em termos das promessas do tipo “o Senhor vos abençoará em tudo” (Dt 7.12-16), mas também na forma concreta do tipo “Não sentireis vento, nem vereis chuva: todavia, este vale se encherá de tanta água, que bebereis vós, e o vosso gado, e os vossos animais” (v.17). Para completar, o Senhor lhes garante também a vitória nas duras batalhas da guerra, inicialmente no deserto e depois nas cidades (18,19).
Se considerarmos apenas o aspecto natural das coisas, o que Eliseu aconselhou foi que as tropas cavassem poços artesianos na área. O fato de a iniciativa ser bem-sucedida já seria, nas circunstâncias, um milagre. Contudo o texto diz que, no momento em que se ofereciam os sacrifícios matinais de manjares, “as águas vinham pelo caminho de Edom”, o que descarta a ideia de lençóis subterrâneos.
O que quer que tenha acontecido demonstra para além de qualquer dúvida que houve uma resposta específica de Deus, trazendo uma solução miraculosa aos aliados. É esta resposta que deve interessar ao povo de Deus, independentemente da forma como se manifesta.

5. Israel triunfa (vv.21-26)

Moabe era um inimigo histórico de Israel. Não havia permitido que os israelitas em peregrinação no deserto passassem por seu território (Jz 11.17), além de levá-los à idolatria (Nm 25.1-3) e de subjugá-lo por dezoito anos (Jz 3.14). Na crise atual, a questão era econômica, mas também militar. Os moabitas, sob o rei Mesa, se achavam fortes o suficiente para ir à guerra contra Israel. Na época, entre nações fronteiriças, quem não dominava era dominado. Um monarca justo como Jeosafá sabia disso, razão pela qual se une a Israel e a Edom para derrotar Moabe.
O texto afirma que as tropas de Moabe viram as águas como se fossem sangue, numa espécie de miragem muito comum no deserto. Interpretando de modo equivocado a situação, tornaram-se presas fáceis nas mãos dos batalhões inimigos. Na realidade, tudo havia sido preparado pelo Senhor para que sua palavra se cumprisse. Quando Ele opera, seu povo só precisa estar pronto para colher os frutos de uma bênção além da medida.

6. Um gesto extremo (v.27)

Com a decisiva ajuda de Deus, as tropas aliadas saíram de uma situação de quase colapso para um conjunto de grandes vitórias na série de batalhas contra os moabitas. A vitória final, contudo, não aconteceu. Cercado e desesperado na cidade de Quir-Haresete, o último reduto de seus exércitos, o rei de Moabe tomou a medida extrema de oferecer seu próprio filho e eventual sucessor em sacrifício sobre os muros defensivos. O objetivo era provocar a ira do deus Quemós contra as tropas invasoras, aplacando-a no que se refere aos próprios moabitas. Na época, acreditava-se, mesmo em Israel, que os deuses de cada região tinham o controle de seus respectivos territórios, levantando-se para defendê-los quando ameaçados.
O texto não deixa claro de que modo “a grande ira contra Israel” (v.27) se manifestou. Tudo indica, porém, que se tratou de um novo alento das forças de defesa para rechaçar o inimigo. É preciso considerar ainda que no principal da tropa aliada estavam os exércitos de Israel e de Edom, países com predomínio de uma religiosidade idólatra. Quando os soldados desses países viram o sacrifício, entenderam que Quemós havia sido convocado à batalha, o que representava um grave risco de derrota para eles. Daí, para a retirada, foi um passo.

Para pensar e agir

A ação profética é importante em qualquer fase da vida do povo de Deus, mas especialmente nos tempos de crise. A palavra do Senhor está com seus fiéis mensageiros, que precisam ser procurados antes de qualquer iniciativa individual ou coletiva. O mais grave erro de indivíduos e nações está no fato de só buscarem a Deus em situações dramáticas ou trágicas, esquecendo-se de buscá-lo quando as coisas permanecem estáveis e positivas.

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