segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

A cura de um guerreiro

Texto bíblico: 2 Reis 5.1-27

Este capítulo narra a experiência da miraculosa cura de Naamã, importante chefe do exército sírio. A riqueza de detalhes da narrativa facilita a percepção não só das trilhas misteriosas pelas quais o Senhor revela-se como um Deus de amor, poder e justiça, mas também dos cumes e abismos da alma humana em sua grandeza e mesquinhez. O episódio é marcante porque mostra os efeitos da operação instantânea do poder divino na vida humana, além de se configurar à base de contrastes que exemplificam com clareza como Deus usa as coisas loucas do mundo para confundir os sábios, e as coisas fracas do mundo para confundir as fortes (1Co 1.27).

1. Menina usada pelo Senhor (vv.1-4)

Naamã é o mais honrado líder militar sírio, com um enorme prestígio junto ao rei e perante a população. Deus permitia, entretanto, que houvesse um “porém” em sua vida, a fim de se revelar e se glorificar na superação dele. Ele era leproso, e embora em seu país a lepra não fosse marcada pelo estigma da maldição religiosa como em Israel, sua felicidade era incompleta. Provavelmente, gastava muito dinheiro e tempo nos inúteis tratamentos médicos com que se procurava curar uma doença incurável.
A menina israelita não tem biografia, na realidade. Não se sabe seu nome ou os de seus pais, sua idade ou a tribo a que pertencia. Era uma simples empregada doméstica, levada à força para uma terra estranha, a fim de servir a senhores a quem não conhecera antes. O que se percebe dela, contudo, é suficiente para provar que, no episódio, ela se encontra no mesmo nível de reis, profetas e generais – ou mesmo acima desse nível. O que a eleva: a) sua atenção aos fatos relevantes e às necessidades reais da vida pessoal de seus senhores, ultrapassando a frieza da relação patrão-empregado; b) seu afeto natural – seu amor, em termos cristãos – por eles, demonstrado num sincero desejo de ajudar; c) seu conhecimento sobre quem realmente poderia solucionar o problema; d) sua fé na ação divina por intermédio de um profeta do Senhor; e) sua coragem em falar em termos afirmativos sobre uma cura que ainda se encontrava no campo da mera possibilidade.

2. Que rei sou eu? (vv.5-8)

Com razão, o rei de Israel treme ao receber de Naamã a carta do rei da Síria enviando-lhe o oficial “para que o cures da sua lepra” (v.6). Rasgar as próprias vestes indica a profunda aflição de espírito de quem enfrentava um grave problema. Ao contrário da menina que servia Naamã, ele não conhece alguém – médico ou não – que possa curar um leproso. Sabe que o rei da Síria também não conhece e que, por isso, só deve estar à busca de algum pretexto para extorquir ou oprimir Israel. Demonstra ser um líder emocionalmente fraco, pois entra em desespero antes mesmo de procurar maiores esclarecimentos sobre o caso.
Na atitude do rei israelita, temos o exemplo de um homem que se mostra fraco no dia da angústia. A competência de um líder está não em se considerar onipotente, ou em tentar centralizar todas as ações, mas em saber quem é bom no que faz e como delegar-lhe responsabilidades específicas. Se o rei de Israel simplesmente se lembrasse da existência de Eliseu, crendo também no Deus a quem o profeta servia, teria evitado os dissabores por que passou na oportunidade.

3. Banho no Jordão (vv.9-14)

Mesmo tratando-se de um importante dignitário estrangeiro, Eliseu manteve seu hábito de falar por meio de um intermediário (v.10). Apesar de dependente, Naamã indignou-se pelo fato de sua provável cura não ocorrer dentro de um ritual público que exaltasse sua condição de pessoa importante, a quem não só Eliseu teria orgulho em receber – o próprio Deus do profeta se sentiria honrado em efetivar pessoalmente a cura.
Naamã pensa em termos políticos. Banhar-se no Jordão era valorizar Israel em detrimento da Síria. Além disso, em alguns trechos o Jordão flui por entre bancos de lama. Se fosse uma questão de águas purificadoras, os rios de Damasco eram de fato mais limpos e mais belos que o rio israelita. Convencido por seus auxiliares, ele acaba cumprindo a ordem. O resultado de sua humilde obediência é o milagre de uma pele de bebê em lugar da epiderme marcada pela lepra.
A água e as sete vezes do mergulho não são meios encantatórios. Para operar seu poder, Deus não precisa que as coisas cumpram esse ou aquele processo litúrgico. O ser humano é que precisa disso, para colocar-se na atitude espiritual que não impeça a recepção da graça divina.

4. Um Deus de poder (vv.15-19)

Naamã era um homem de fé. A alguém como ele, o Deus verdadeiro se revelará no tempo devido e de modo inequívoco. Depois de curado, o comandante sírio profere seu testemunho sobre esse Deus: “Eis que, agora, reconheço que em toda a terra não há Deus, senão em Israel” (v.15). Reconhecendo o Senhor como o único Deus e dispondo-se a não oferecer sacrifícios a outros deuses (v.17), ele cumpre o primeiro mandamento da lei de Moisés (Êx 20.2,3 e Dt 5.6,7). Está, portanto, apto a cumprir os demais, ou seja, a tornar-se um seguidor da religião de Israel.
Nesses termos, pede a Eliseu que lhe permita levar terra do solo israelita, a fim de erigir na Síria um altar ao Deus de Israel (v.17). Essa disposição parece contrastar com o que ele declara sobre ser perdoado pelo fato de no futuro ter que entrar no templo do ídolo sírio Rimon para adorá-lo (v.18). Ocorre que uma autoridade de seu porte dificilmente poderia se furtar a cumprir funções religiosas ligadas ao culto oficial de seu país, ainda que não crendo na divindade a quem se destinavam. Eliseu compreende as injunções políticas ligadas à posição de Naamã e dá-lhe sua bênção (v.19).
Na passagem, mais um exemplo da grandeza pessoal do profeta. Ele não aceita o “presente” que Naamã insiste em lhe dar (vv.15,16). Como Elias, Eliseu conhece o perigo, para seu ministério, do apego aos bens materiais. Não quer, igualmente, ser identificado como um profeta profissional, que trabalha por dinheiro. Ele quer continuar sendo um humilde, santo e poderoso homem de Deus. Em sua forma de pensar, esse objetivo poderia ser prejudicado por qualquer envolvimento que o pusesse na trilha pela busca do poder, do lucro e da glória deste mundo.
Mais do que tudo isso, ele queria evitar a simonia, isto é, a idéia de que o poder de Deus e suas operações podem ser comprados por dinheiro (At 8.18).

5. Branco como a neve (vv.20-27)

Geazi não percebeu qualquer das implicações morais ou espirituais do fato de alguém receber alguma compensação financeira pela cura do oficial sírio. Achando que isso não faria mal nenhum a ninguém – desde que o próprio Naamã insistia em presentear –, mas sabendo da resistência de Eliseu nesse sentido, resolveu agir de seu modo. Novamente a pergunta da vida comum – “vai tubo bem?” – ocorre (v.21). Geazi responde que sim, sem pensar, contudo, que a resposta pudesse ser outra caso ele insistisse na rota da ganância e do engano.
Para chegar a seus objetivos, ele usa o nome de Eliseu, usa a boa-fé do militar, usa a carência material dos profetas e, se necessário, usaria o próprio nome do Senhor. Em nossos dias, existem muitos como o infeliz auxiliar de Eliseu que, dominados pelo amor ao dinheiro, ao poder e à glória, usam pessoas e situações e o próprio nome de Deus e de Jesus Cristo, para atrair sobre si mesmos toda a espécie de males e dores.

Para pensar e agir
O Deus de Israel é o único Deus vivo e verdadeiro. Crer nele é garantia de vitória sobre todos os tipos de sofrimento. Essa fé leva a pessoa a vencer também a doença que consiste em depositar sua fé nos ídolos mortos. Naamã alcançou essa bênção porque teve a coragem e a humildade de crer no Deus que lhe foi mencionado por uma escrava e revelado por um profeta desconhecido. O Deus que abençoa, porém, é também o Deus que repreende, o que fica claro na dura experiência de Geazi.

Leitura Diária

Segunda: 2Reis 5.1-19
Terça: 2Reis 5. 20-27
Quarta: Levítico 14. 1-9
Quinta: Números 12. 1-16
Sexta: Salmo 103. 1-5
Sábado: Mateus 8. 1-4
Domingo: Romanos 5. 1-11

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