quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

A vinha da ira

Texto bíblico: 1 Reis 21.1-29

Nesta lição, o tema é a intervenção divina para confrontar o homem em face dos pecados deste e da ausência de limites éticos e morais nas ações humanas. Focaliza igualmente o arrependimento sincero como meio de obtenção do perdão divino. Israel acaba de obter uma grande vitória militar contra os sírios (1 Rs 20.1-43). O Senhor concedera o triunfo ao rei a fim de que este soubesse quem era Deus em Israel (1Rs 21.28). Usava também a guerra para que os adversários dos israelitas entendessem que Ele era tanto Deus dos montes quanto da planície, ou seja, que não havia limites de qualquer espécie a seu divino poder (1Rs 20.23,28,29).
Acabe triunfa na guerra, mas fracassa na política e nos assuntos domésticos. Faz com o rei da Síria uma aliança que desagrada a Deus (1Rs 20.32-43) e em seguida aceita que Jezabel resolva a seu modo cruel a pendência na tentativa de compra da vinha do vizinho Nabote. O que o salva, como o monarca, espiritualmente muito fraco que era, é o sincero arrependimento que demonstra, valendo-se dos ritos penitenciais israelitas para reconquistar o favor divino.

1. Por bem ou por mal (21.1-7)

A proximidade com os poderosos pode ser um problema. Nabote pagou com a vida o fato de que sua vinha fazia limite com o palácio real. A negativa em vender suas terras ao rei baseava-se na lei agrária, que proibia a venda da terra em perpetuidade (Lv 25.23). O máximo que se poderia fazer era vender temporariamente e reapropriar-se depois, com base na lei sobre o ano do jubileu (Lv 25.25-28). Havia também razões afetivas para sua recusa em negociar (21. 3). Em última análise, a terra era do Senhor (Lv 25.23).
De um ponto de vista meramente comercial, tratava-se de um bom negócio para Nabote. O rei lhe daria em permuta “uma vinha melhor” ou seu valor em dinheiro. Conhecendo a lei, Acabe se deprime com o desfecho da negociação, mas não parece disposto a tomar o terreno a qualquer custo. É quando entra em cena a maligna Jezabel, que nutria um desprezo total pelas leis israelitas e não tinha escrúpulos para conseguir o que queria.
Jezabel critica o marido por este não fazer valer o peso do poder real para dobrar um simples sitiante. E arquiteta um plano maquiavélico para cumprir a promessa de dar-lhe a vinha de Nabote.

2. Falso julgamento (vv.8-16)

Erros judiciais não são raros, mas uma acusação abertamente falsa como a que condenou Nabote parece não ter similar no Antigo Testamento. Jezabel colocou o peso do trono contra um cidadão comum, num processo sumário que foi conduzido sob segredo de Estado e que não deu ao réu o mínimo direito de defesa.
Para atribuir ainda maior gravidade à acusação de que Nabote havia blasfemado contra Deus e contra o rei, a rainha determinou aos nobres da cidade onde ele vivia que apregoassem um jejum. Cartas no nome de Acabe, chanceladas com o sinete real, davam caráter oficial à ordem. Nos termos de hoje, indicavam que era o povo, isto é, o Estado e a sociedade, contra Nabote. O objetivo do jejum era preparar o povo para a aproximação de Deus, que havia sido ofendido e agora apareceria para cobrar a ofensa. Era uma situação de vida ou morte que, se não fosse bem resolvida, poderia resultar numa tragédia nacional de grandes proporções.

3. Herança maldita (vv.17-19)

Com o circo armado da forma a mais conveniente possível, Nabote acabou condenado por crime religioso (blasfêmia contra Deus) e por crime político (blasfêmia contra o rei), de acordo com Deuteronômio 22.28. Apedrejado até à morte, seu sangue escorreu pelo chão e foi lambido pelos cães (v.19). O papel de duas testemunhas falsas foi decisivo na farsa. Eram os chamados homens de Belial, expressão composta das palavras hebraicas beli (não) e yaal (proveito), significando “os que não valem nada”. Os dois atiraram as primeiras pedras, como era a lei em Israel (Dt 17.7).
Alguns criminosos, depois de tirarem a vida de alguém – às vezes até de familiares – se achavam no direito de herdar ou se apropriar daquilo que pertencia a suas vítimas. A repreensão de Deus a Acabe, nas palavras de Elias, toca neste ponto. Além de matar, o rei ainda tomava para si a vinha, e isso dentro da legalidade.
O juízo de Deus na mensagem profética é categórico: no mesmo lugar onde os cães tinham lambido o sangue de Nabote, ou seja, junto ao açude de Samaria, Acabe terá seu sangue lambido pelos cães (v.19). A profecia se cumpriu quando Acabe, morto em combate na guerra contra o sírios, teve o corpo transportado num carro e sepultado em Samaria. O seguinte versículo diz o que aconteceu: “Quando lavaram o carro junto ao açude de Samaria, os cães lamberam o sangue do rei, segundo a palavra que o Senhor tinha dito; as prostitutas banhavam-se nestas águas” (1Rs 22.38). Jezabel também não escaparia da condenação. A lição é óbvia: o Deus vivo, santo, justo e todo-poderoso não tolera a injustiça. Em seu poder e sabedoria, faz com que cada um colha o fruto de suas próprias obras, seja para o bem, seja para o mal.

4. Inimigo meu (vv.20-26)

Na ótica de Acabe, Elias antes era o perturbador de Israel. Agora, é o inimigo do rei. Desta vez, o profeta não replica, mesmo porque era de fato um inimigo de todos os atos pecaminosos de Acabe, embora não fosse inimigo pessoal do monarca. Elias sabia que Jezabel “instigava” o marido (v.25) à prática do mal. A profecia condenatória se desdobra, alcançando a descendência real. A exemplo da dinastia de Jeroboão, a dinastia de Onri, à qual Acabe dava sequência, não terá continuidade. Como a raiz de uma planta venenosa, ela será arrancada. A profecia se cumpre quando Jeú assume o poder e destrói a casa de Acabe, inclusive os membros da corte de Judá que eram seus parentes (2Rs 9-10).
No difícil diálogo entre Elias e Acabe na vinha de Nabote, o profeta diz ao rei que este se vendera para fazer o que é mau perante o Senhor (v.20). Além de se vender a Jezabel, aceitando a hegemonia do culto a Baal em Israel, Acabe vendera sua alma por uma vinha. Há várias maneiras de vender a alma. As vinhas recebidas em troca podem se chamar sucesso, fama, dinheiro e poder. As moedas por intermédio das quais o negócio é feito podem receber o nome de omissão, cumplicidade, violência e desonestidade. O resultado, no acerto final de contas, é sempre a condenação da história, da sociedade e de Deus.

5. Um rei humilhado (vv.27-29)

A atitude de Acabe, humilhando-se em face da censura profética, não é um fenômeno raro na história de Israel. Antes dele, confrontado por Natã, Davi reconheceu seu pecado contra Urias (2Sm 12.1-15). Depois dele, Manassés buscou a Deus em oração e obteve o perdão divino (2Cr 33.10-16). Nabucodonosor, não sendo judeu, reconheceu o erro de considerar-se todo-poderoso e exaltou ao Deus de Israel, razão pela qual sua sanidade mental lhe foi restituída, assim como o poder e a glória de seu reinado (Dn 4.28-37).
Aquele que se humilhar será exaltado, ensinou Jesus (Lc 14.11). O oposto também ocorre. A lição para os fíéis destaca a realidade do dito popular no sentido de que o cair é do homem e o levantar-se é de Deus. Ninguém que se arrependa sinceramente perante o Senhor deixará de receber deste a misericórdia que cobre as transgressões e a consolação que torna possível a reabilitação.


Para pensar e agir

A sórdida trama pela qual Nabote foi julgado e morto demonstra que o poder político nas mãos de pessoas sem escrúpulos é uma ferramenta preferencial de Satanás. A coragem profética de um homem como Elias é o único contraponto eficaz a esse mal. Se é verdade que onde não há profecia a corrupção se alastra (Pv 29.18), onde a voz de Deus se faz ouvir o juízo divino abre os caminhos para a reparação do que está errado e para conduzir ao arrependimento aqueles que creem na misericórdia do Todo-Poderoso.

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