terça-feira, 8 de dezembro de 2009

Posso amaldiçoar e ser amaldiçoado?

O tema é intrigante e assim o chamo por nos levar a pensar no dualismo bênção e maldição. Quero convidá-lo a se desligar do tema “bênção”, pelo menos inicialmente, pois quando falamos em abençoar alguém, necessariamente não damos a mesma força e viés interpretativo de quando falamos em amaldiçoar alguém. Também devemos nos desligar da interpretação que vincula a maldição ao Diabo. Não estamos falando disso!

A palavra maldição pode ser vista como desejo expresso pelo mal, que uma vez dirigido a Deus refere-se à blasfêmia (Jó 1.5, 11; 2.5,9). No Antigo Testamento percebe-se que a maldição estava relacionada com o pecado (Gn 3), com a desobediência (Pv 26.2) e que ela tinha um poder inato de atingir pessoas, reconhecidas como suas vítimas.

Também se percebe que quando algo fosse consagrado a Deus e tivesse encaminhamento diferente daquele para o qual fora separado, seria considerado maldição (Lv 28.28). Pelo mesmo ângulo, entenda-se o que acontece com o voto não-cumprido, cujos resultados são lastimáveis. Essa realidade era patente no império da Lei, na dinâmica do Antigo Testamento, mas não há límpido exemplo dela no Novo Testamento.

Vale dizer que entre os pagãos existia a concepção de que a maldição possuía em si mesma o poder da autoconcretização, como ocorreu na experiência de Balaque e Balaão (Nm 22 a 24).

Em 2Reis 2.23,24 o Profeta Eliseu foi atacado pelas zombarias de alguns rapazes. Diz-nos o texto que o profeta proferiu maldição sobre eles em nome do Senhor, e as coisas ficaram terríveis para os zombadores (foram atacados por duas ursas). Texto bíblico: Tiago 1.26

A forma como se dirigiam a Eliseu expressava a atitude de desdém e menosprezo dos habitantes daquela terra pelo escolhido de Deus para a função profética.

A maldição que Eliseu impetrou sobre eles era semelhante à de Levítico 26.21,22, e se constituía em uma prévia do juízo de Deus contra a nação caso não se arrependesse da atitude de desobediência e de abandono dos ensinos do Senhor (2Cr 36.16).

Como faz bem a descrição bíblica de que, conquanto existisse o monte Ebal, onde simbolicamente estava a maldição (Dt 27.11-26), existia o Gerezim, monte da bênção (Dt 28.1-13), e como se não bastasse Jesus fez-se maldição em nosso lugar (Gl 3.13), nos resgatando da maldição da lei, levando sobre si a penalidade dela (Dt 21.23).

Pela bondade de Deus fomos chamados para bênção (Gn 12.2), pela graça estamos inseridos em seu contexto e livres de qualquer sorte de maldição.

1. Uma visão perigosa

É comum ouvir histórias de pessoas que ensinam frases de efeito para a congregação, dizendo que aquilo que for proferido terá poder. Uma interpretação equivocada de Tiago 3.10 pode contribuir para tal feito: “Da mesma boca procedem bênção e maldição”. O verso está no contexto em que o escritor trabalha o domínio sobre a língua. Tiago afirma que até animais são domados, mas a língua não é domada por ninguém, e completa dizendo que a língua possui veneno mortal (3.7,8).

Uma mesma boca pode bendizer a Deus e maldizer as pessoas. Essa é a ênfase do texto de Tiago, que então declara que de uma mesma língua podem sair bênção e maldição. A essência não está no que pode sair da boca, mas no controle da língua, para não se falar o que não se deve. O autor está combatendo a hipocrisia daqueles que se dizem obedientes a Deus, que com a mesma intensidade afirmam ser adoradores, falando mal uns dos outros. Por isso que Tiago é tão enfático em dizer que não pode ser assim entre nós. De águas salgadas não se espera água doce, assim como do servo de Deus não se espera palavra amarga.

Vale destacar ainda que não possuímos as palavras criadoras. Só a palavra de Deus tem poder. Quando Deus fala, as coisas acontecem. Só Deus cria do nada, só Deus traz à existência. Nossas palavras não têm poder.

2. Os Efeitos das palavras

As palavras não têm poder, mas produzem efeitos principalmente nos ouvintes. No relacionamento entre pais e filhos, podemos notar tais efeitos considerando a obediência dos filhos. Quando uma mãe, por exemplo, diz para o filho arrumar o quarto, há efeito nessas palavras, pois ele a ouve e cumpre, em razão da relação existente entre falante e ouvinte.

Nós podemos atrapalhar ou ajudar com nossas palavras. Esse, creio, é o sentido correto quando alguém diz que amaldiçoa ou abençoa alguém. Não creio na carga criadora que é dada a essas palavras, numa dimensão espiritual até, pois, reafirmo, só Deus tem as palavras criadoras. Conscientes de que as palavras produzem efeitos, devemos atentar para o que a Bíblia diz e dominar a nossa língua, para que ela seja utilizada com exclusividade para proferir palavras que ajudem os nossos semelhantes.

Isso é tão importante que Tiago questiona o valor da religiosidade de uma pessoa se ela não consegue refrear a própria língua. Ele afirma que tal religião não tem valor nenhum (Tg 1.26). A língua, no dizer de Tiago, é como um fogo, com a capacidade de incendiar todo o curso de uma vida (3.6). Devemos tomar muito cuidado com o que falamos (Mt 12.36,37). Temos responsabilidades diante daquilo que causamos pelo efeito das nossas palavras.

As palavras não têm poder nelas mesmas. Não são mágicas nem energizadoras. Mas são códigos que transmitem ideias, comunicam fatos e expressam atitudes. Com as palavras suscitamos a ira, a inveja, a sexualidade, os desejos, a inibição, o encorajamento e a apreciação ou a depreciação dos fatos. Elas servem para defender e acusar, para conduzir ao erro e apreciar as vitórias; para proferir verdades ou mentiras e para elogiar o que se reconhece como bonito, ou criticar aquilo que se imagina ser expressão do feio. Não podemos ignorar o que as palavras comunicam como código linguístico, nem que elas tenham a capacidade para edificar as pessoas e estragar as coisas. Daí a recomendação de prudência e equilíbrio no seu uso (Cl 4.6; Ef 4.29; Tg 3).

3. Cristo é suficiente

É importante ressaltar que as palavras que proferirem a nós não têm poder sobre nós. Só terão efeitos em nossa caminhada se deixarmos. Paulo afirma que “não há condenação para os que estão em Cristo Jesus” (Rm 8.1). Mesmo que alguém afirme que terminaremos em desgraça, mesmo que alguém diga que fará alguma artimanha contra nós, colocando nossos nomes nas esquinas ou coisas semelhantes, por meio de rituais satânicos, não devemos temer.

A única pessoa a quem devemos temer é a Deus: “Não tenham medo dos que matam o corpo e depois nada mais podem fazer. Mas eu lhes mostrarei a quem vocês devem temer: temam aquele que, depois de matar o corpo, tem poder para lançar no inferno. Sim, eu lhes digo, esse vocês devem temer” (Lc 12.4,5).

Todos estávamos condenados a uma vida de desilusão, pela corrupção do pecado. Mas, de forma graciosa, Jesus veio ao mundo e se entregou por nós. O seu sacrifício na cruz do Calvário nos livrou de toda a culpa. Sobre Jesus ficaram nossos delitos e enfermidades. Portanto, Cristo é suficiente. Não precisamos de nada além dele para nos libertar e fazer feliz e bem-sucedido o nosso viver.

Para pensar e agir

Vimos que nossas palavras não têm poder para amaldiçoar alguém. Elas não possuem essa “carga espiritual”. Mas vimos que as palavras produzem efeitos e, dependendo da estrutura emocional do ouvinte, podem desmoronar uma história de vida. Com isso, cuidemos para não ferir ninguém com as nossas palavras. Que, no dizer de Tiago, sejam sempre palavras de bênção, ou seja, palavras incentivadoras, misericordiosas e esperançosas. Como já somos rodeados de palavras tão negativas, sejamos canais de boas notícias, portadores de palavras de esperança e amor.

Leitura Bíblica Diária

Segunda: Mateus 12.36,37

Terça: Tiago 3.1-12

Quarta: Tiago 3.13-18

Quinta: Lucas 12.1-12

Sexta: Salmo 19.14

Sábado: Romanos 8.1-17

Domingo: Tiago 1.26

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